quinta-feira, 15 de abril de 2010
Chesf: da semente à árvore, 35 anos
ANGIQUINHO
USINA PAULO AFONSO I
DELMIRO GOUVEIA
Os feitos de Delmiro Gouveia são conhecidos e lhe valeram uma admiração nacional que perdura, 93 anos depois de ter sido assassinado, em 1917. O prejuízo para o Nordeste, causado por sua morte aos 54 anos de idade, não pode ser quantificado. Apesar de indiscutível pelas suas proporções. Basta considerar que o primeiro aproveitamento hidrelétrico na América Latina foi a da cachoeira de Paulo Afonso, na Usina de Angiquinho, construída por ele de 1911 a 1913, uma semente só transformada na árvore da Chesf em 1948.
Para o empreendimento, trouxe da Itália o engenheiro Luigi Borella, que participou também da construção da Fábrica de Tecelagem da Pedra e – conjugando a geração de riqueza com o social – da Vila Operária. Assim lançou as bases para as grandes usinas do Complexo de Paulo Afonso (a partir de 1955) e de Sobradinho, Itaparica e Xingó, com seus respectivos acampamentos, na Bacia do São Francisco.
Segundo Plínio Cavalcanti, “se Delmiro Gouveia vivesse mais oito anos, o Nordeste brasileiro poderia resolver nesse espaço de tempo o seu problema de viação carril”, pois, “em cinco anos, construiu 520 km de estradas”: 20 para Água Branca; 300 para Quebrangulo e Palmeira dos Indios, em Alagoas; 25 para Paulo Afonso (BA) e 151 para Garanhuns (PE).
É de esperar-se que a memória e o exemplo de Delmiro Gouveia, avivados pelo seu sesquicentenário e pelo centenário de Angiquinho, a serem comemorados em 2013, iluminem a luta em defesa da autonomia e do fortalecimento da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco. Até ilustrada com a citação do blá-blá-blá antinordestino dos anos 40, insistente na condenação de investimentos na Usina Paulo Afonso I, sob o argumento de que a energia nela gerada ficaria sem consumo. E com o reforço afinal manifestado pelo governador Eduardo Campos, a favor da recomposição da autonomia da Chesf, sugerindo que a Eletrobras acompanhe o ingresso de suas subsidiárias nas sociedades de propósitos específicos (SPEs), espécie de parcerias entre empresas para realização de obras.
É o momento para um debate, com seu epicentro no desenvolvimento do Nordeste, que sacuda o País no grau de intensidade da resistência à desregionalização, traduzida esta num processo centralizador, quase imperial. Risco, é claro, que não se limita à Chesf, diminuída no seu poder de decisão para operações a somente 0,5% (R$ 22,6 milhões) do seu capital social. Mas igualmente para a Sudene, Dnocs, Codevasf. Embrapa e mesmo BNB, quem sabe sacrificado no altar do BB, elevado a Petrobras do setor financeiro, como está sendo a Chesf, no altar da Eletrobras, a Petrobras do setor elétrico. Num todo de restrições anuladoras de um esforço, nos anos 50, das lideranças e do povo nordestino, para assumir sua territorialidade, no que for estrategicamente necessário. Por exemplo, a criação de Regiões Administrativas Integradas de Desenvolvimento, como a dos Pólos Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), no Médio São Francisco, já criada por Lei Complementar, e a dos Pólos Paulo Afonso (BA), Petrolândia (PE), Delmiro Gouveia ou Piranhas (AL) e Canindé do São Francisco ou Poço Redondo (SE), a ser criada, no Submédio e Baixo São Francisco.
Sem esquecer o Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCT), com o projeto Farmácia Viva, destinado a “resgatar e valorizar a sabedoria e a cultura popular, devolvendo, de forma científica, informações que irão beneficiar a comunidade em relação aos recursos fitoterapêuticos locais”.Vale destacar a possibilidade da possível associação com o Instituto Xingó, também vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e criado para cumprir o papel de matriz tecnológica do sertão, com atuação em 29 municípios de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe, com sede em Canindé.
A Chesf demorou mais de quatro décadas para instalar a primeira usina (1955) depois de Angiquinho (1913). O governo não pode, com uma simples canetada, esvaziar o sonho do maior dos nordestinos: “Delmiro deu a ideia, Apolônio aproveitou, Getúlio fez o decreto e Dutra realizou”. Será que os versos tão bem cantados por Luiz Gonzaga terão um acréscimo por arremate: “E Luiz Inácio enterrou”?
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