terça-feira, 27 de abril de 2010

Caso Chesf serve de alerta para o Nordeste


Lula: Foi erro dos companheiros

Os feitos de Delmiro Gouveia são conhecidos e lhe valeram admiração nacional que perdura, 93 anos depois de ter sido assassinado, em 1917. O prejuízo para o Nordeste, causado por sua morte aos 54 anos de idade, não pode ser quantificada. Apesar de indiscutível pelo sentido visionário de sua obra. Basta considerar que o primeiro aproveitamento hidrelétrico na América Latina foi o da cachoeira de Paulo Afonso, na Usina de Angiquinho, construída por ele de 1911 a 1913, semente só transformada na árvore da Chesf em 1948. Para o empreendimento, trouxe da Itália o engenheiro Luigi Borella, que participou também da construção da Fábrica de Tecelagem da Pedra e - conjugando a geração de riqueza com o social – da Vila Operária.
Assim lançou as bases para as grandes usinas do Complexo de Paulo Afonso (a partir de 1955) e de Sobradinho, Itaparica e Xingó, com seus respectivos acampamentos. Segundo Plínio Cavalcanti, “se Delmiro Gouveia vivesse mais oito anos, o Nordeste brasileiro poderia resolver nesse espaço de tempo o seu problema de viação carril”, pois, “em cinco anos, construiu 520 km de estradas”: 20 para Água Branca (AL); 300 para Quebrangulo e Palmeira dos Índios, em Alagoas; 25 para Paulo Afonso (BA) e 151 para Garanhuns (PE).
É de esperar-se que a memória e o exemplo de Delmiro Gouveia, avivados pelo seu sesquicentenário e pelo centenário de Angiquinho, que transcorrerão em 2013, iluminem a luta mais ampla pelo desenvolvimento do Nordeste, depois de terem contribuído para a defesa da autonomia e fortalecimento da Chesf. Até ilustrada com referência histórica às tentativas sulistas de condenar investimentos na Usina Paulo Afonso I, com o argumento de que a energia nela gerada ficaria sem consumo.
Isso nos anos 40.
Hoje, não apenas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, mas também no Sul, e no Sudeste, foco principal dessa movimentação antipatriótica, é consumida a energia produzida pelas usinas da Chesf, que se pretendeu aprisionar no Rio de Janeiro. Num escritório de edifício com mais de 40 andares, empreendimento multimilionário projetado pelos donatários do setor elétrico. Afinal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que houve falhas no projeto de reestruturação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, cobrando do ministro de Minas e Energia Márcio Zimmermann, a correção de “erros cometidos pelos companheiros”.
Eis chegado o momento para o grande debate, com seu epicentro no desenvolvimento do Nordeste, capaz de sacudir o País no mesmo grau de intensidade da resistência à desregionalização intentada pelo autoritarismo centralizado, ainda um pouco enrustido mas já mostrando as garras. Risco, é claro, não limitado à Chesf, que pode ser alvo de outra investida. Porque extensivo à Sudene, recriada no papel, ao Banco do Nordeste, ao Dnocs, à Codevasf e à Embrapa.
Num todo de restrições ameaçadoras das conquistas alcançadas, nos anos 50 sobretudo, pelas lideranças e povo nordestino, para assumir, com pragmatismo, sua territorialidade, no que for estrategicamente necessário. Por exemplo, a criação de Regiões Administrativas Integradas de Desenvolvimento, como a dos Pólos Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), no Médio São Francisco, já criada por Lei Complementar, e a dos Pólos Paulo Afonso (BA), Petrolândia (PE), Delmiro Gouveia ou Piranhas (AL) e Canindé ou Poço Redondo (SE), a ser criada no Submédio e Baixo São Francisco. E só dependente da força de sua cidadania e da maioridade política dos seus representantes nas câmaras e nos executivos.
O governo brasileiro tardou mais de quatro décadas para instalar a primeira usina (1955) após Angiquinho(1913). E ensaiou, com uma simples canetada, esvaziar a empresa símbolo da região, assim cantada por Luiz Gonzaga: “Delmiro deu a idéia/Apolónio aproveitou/ Getúlio fez o decreto/ e Dutra realizou.” O atual presidente talvez tenha querido evitar arremate desonroso para esses versos em louvor da Chesf: “E Luiz Inácio enterrou.” Que complete o arrependimento preservando as instituições do Nordeste, favorecendo-as com orçamento regionalizado e autonomia regional.

Um comentário:

Cian disse...

É extremamente desesperador olhar pra cara de Lula.