sexta-feira, 3 de setembro de 2010

O papel da militância “sem lugar”, hoje



O PROCESSO DO MENSALÃO


Jean Paul Sartre visitou Pernambuco em 1960, a convite dos organizadores do I Congresso Brasileiro de Crítica e História Literária. Certa noite de agosto, olhando o céu, de janela da casa com vista para Olinda, notou que a lua tinha a forma de um C e ia crescendo da esquerda para a direita. “Engraçado, exclamou. Na Europa, é justo o contrário, a lua é um C invertido que cresce da direita para a esquerda!” Indagado sobre o que significava essa diferença, Sartre, após uma pausa, respondeu com ar pensativo: “Magias da terra”.
Mágico terá de ser quem se aventure a distinguir, no Brasil, esquerda, direita e centro. Mais avisado se mostrará quem seguir a lição de Eduardo Portella, professor emérito de Teoria Literária da UFRJ, que se confessa “um sem lugar militante” tomando posição diante de cada situação que se apresenta. Ele e o crítico Luiz Costa Lima, professor de Literatura da PUC – RJ, a quem coube o relato da visão lunar de Sartre, foram entrevistados pela jornalista Fabiana Freire Pepeu (Caderno C do Jornal do Commercio, 17.8.2010), a propósito dos 50 anos da visita do filósofo que era então o símbolo do intelectual engajado.
O cinqüentenário da presença do autor de “O Ser e o Nada” pode ser aproveitado como estímulo para reflexão sobre as situações que se apresentam agora e exigem tomadas de posição, especialmente por parte dos que têm na palavra seu instrumento de trabalho e de ação. Se os posicionamentos surgirem dos “sem lugar militantes”, melhor ainda. Os consensos se produzirão e transitarão com mais facilidade para seu destino final, as soluções nascidas do diálogo sobre cada situação concreta. É bom lembrar que Sartre, comprometido com as questões do Terceiro Mundo, apesar da sua condição de perquiridor do ser e do nada, foi um ativista empenhado na luta para libertar a Argélia do colonialismo de sua própria pátria e na tentativa de conciliar suas ideias de autodeterminação existencialista com os princípios marxistas. Se, no primeiro caso, foi bem sucedido, neste último não foi, e ainda sofreu o revés do arrependimento pelo apoio dado ao castrismo contaminado pelo stalinismo, este refletido nas punições do governo cubano aos seus opositores.
Hoje, na América Latina, afora a intolerância do regime de Fidel Castro, se configuram pelo menos três desafios a serem enfrentados: o amoralismo boliviano de Evo; o socialismo bolivariano, disfarce da vocação ditatorial de Hugo Chávez; e uma espécie de subperonismo brasileiro ainda por ser decifrado, com Dilma Rousseff, “a mãe do PAC”, reencarnando Evita, e Lula, Perón (dona Marisa fica de fora), criatura e criador moldados no mesmo figurino petista de um autoritarismo sustentado na governabilidade fisiológica surfada pelo PMDB e na popularidade alimentada pelo assistencialismo coronelístico.
Já praticado em escala mundial, de olho comprido na ONU e até no Nobel. E lá, lá bem no alto, acima da lua crescendo para a direita ou para a esquerda, que Deus se cuide, pois tudo indica que tem brasileiro nascido em Caetés, de visual remodelado como o da discípula, querendo tomar o seu lugar. Um esquema mais avassalador, com licença de Lenine, o cantor compositor, do que a ditadura instaurada pelo golpe (ou contragolpe?) de 31 de março de 1964. Vencedores pelas armas que nem precisaram usar, chegaram aos desvarios de 1968 na febre do AI-5.
O amadorismo social democrata, com suas falhas de comando político, escancarou as portas do país de economia estabilizada para os que, reprovados na guerrilha, foram aprovados com louvor na manipulação do poder conquistado pelo voto conferido ao líder operário. A ponto de o percentual de aprovação popular de Lula coincidir com a posição do Brasil, no ranking da corrupção, 80º lugar dentre 180 países perseguidos. Sem esquecer o título de sexto país, dentre 149, mais violento do mundo. Nem o mensalão abalou o governismo servido no prato no negocismo adesista com seus molhos regionais. Nessa gastronomia do atraso, sobressaem, na Bahia, os sabores Wagner e Geddel. Em Pernambuco, há mais variedades, indo de Dudu a Severino, passando por Joaquim Francisco e Inocêncio, com tira gosto de traíra de bico.
Magias da política no país do besteirol. Saudades de Stanislaw Ponte Preta.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A ABI e os Militares




Reproduzo, parcialmente, meu depoimento ao curso de jornalismo sobre “o comportamento da Associação Bahiana de Imprensa durante a ditadura militar”, a pedido do estudante de jornalismo / FIB, Victor Bugalho.
Resposta à pergunta “É verdade que os militares invadiram o Diário de Notícias. E houve uma tentativa de assassinato contra o jornalista Odorico Tavares”?
- Não. O jornalista Odorico Tavares foi vítima de perseguições conduzidas pelo coronel Luis Artur e de um atentado espalhafatoso do coronel da PM Nei Ferreira, político, dirigente esportivo e genro de Antonio Balbino, ex-governador. Ele entrou armado na redação do DN, em companhia de um pistoleiro, quando estava quase deserta, porque no intervalo de funcionamento dos dois jornais associados, o vespertino Estado da Bahia e o matutino Diário de Notícias.
Brandindo um chicote e desaforos. Publiquei na edição DN do dia seguinte, sem combinar com Odorico, na primeira página, nota de meia dúzia de linhas assinada por mim, com protesto e solidariedade, além do retrato moral do agressor.
ABI e A Tarde
Resposta à pergunta “Qual a avaliação sobre a postura da ABI durante a ditadura”:
- A ABI sempre se confundiu com A Tarde. Hoje, reflete, embora com escassa visibilidade, as influências positivas do jornal fundado por Simões Filho, agora com pluralidade quase exemplar. Bem diferente de outras fases, como a que corresponde ao quatriênio (metade no período João Goulart; metade no regime militar) do governo Lomanto Júnior.
1968
Victor, não esqueça, no seu trabalho, de destacar que 1968 foi um ano emblemático para aferição das posições dos jornais de Salvador. Foi quando, de certa forma, começou a reação possível contra os militares, via manifestações estudantis. É só comparar as coberturas feitas pelo Diário de Notícias e pelos outros jornais. Inclusive no episódio da morte de uma estudante do ICEIA. Foi proibido qualquer tipo de divulgação a respeito, através de instruções transmitidas pelo coronel Luis Artur, da Polícia Federal, desobedecidas pelo DN, o que gerou feroz perseguição ao jornalista Odorico Tavares, comprometendo até sua saúde, pois veio a sofrer uma trombose, passando dez anos na cadeira de rodas.
Ele comandava então o condomínio associado na Bahia (jornais Diário de Notícias e Estado da Bahia e a Rádio Sociedade e a TV Itapoan).
Esclarecimentos
Dois esclarecimentos sobre isso: como redator chefe, eu tinha plena autonomia e, com base nela, deixei falar mais alto minha condição de ex-dirigente da União Nacional dos Estudantes (gestão do presidente Marcos Heusi Neto). Antes mesmo de ler o DN, que mostrava a dimensão dos protestos estudantis, Odorico Tavares foi informado do seu conteúdo , ainda em sua casa no Morro do Ipiranga, pelo governador Luiz Viana Filho. Leitor e articulista do jornal, ele confessou-se surpreso, na conversa telefônica, até pelo confronto do noticiário DN com o que saiu (ou melhor não saiu) no JBa e em A Tarde. Odorico, com toda a tranqüilidade, e tom um tanto paternal, me fez esse relato e confidenciou que tinham pedido a minha cabeça (Excluiu Luiz Viana - seria incapaz de um gesto deste – mas não revelou quem).
Acordo Time-Life
Victor, para compreender este episódio, vale esclarecer que Odorico jamais me perguntou qual seria a manchete da edição DN do dia seguinte. Sua confiança no meu trabalho era total e a consideração que me dispensava cresceu mais ainda. E vice-versa.
As relações das Emissoras e Diários Associados, na gestão João Calmon (elegeu-se senador) com o regime militar foram marcadas pelo conflito decorrente do apoio do governo Castelo Branco ao Acordo Time-Life, que ergueu o império da Rede Globo e desmoronou os Associados de Assis Chateaubriand.
Campanha Nacional
Sob o comando de João Calmon foi então movida a campanha nacional contra o Acordo Time-Life. Nessa fase, recebi convite do consulado dos EUA em Salvador para visitar o pais, tendo sido marcada prévia conversa com o representante diplomático norte-americano. Ele me fez uma pergunta curta e grossa: Por que só o Diário de Notícias faz na Bahia campanha contra o Acordo Time-Life?
Estive para me levantar da cadeira, dar-lhe as costas e ir-me embora sem responder. Mas aí não falou o “cangaceiro de Serra Negra” (nome do então povoado do município de Jeremoabo hoje município de Pedro Alexandre) como brincava Odorico comigo e sim o meu lado civilizado:
- Não sei por que o jornal Estado da Bahia e a Rádio Sociedade e a TV Itapoan não fazem a campanha. Só sei que o Diário de Notícias faz porque esta é a posição do Condomínio Associado.
Aí morreram a conversa e o convite.
Muitas outras estórias poderia contar. Mas vou deixá-las para o meu livro, com o titulo provisório de “A Crônica de Minha Aldeia”, um projeto que precisa de apoios como o do professor Luis Guilherme e do seu e de outros jornalistas, leitores e críticos.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Modelo Transmunicipal de Desenvolvimento na Região de Paulo Afonso



A Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Submédio e Baixo São Francisco será modelada pelo complexo energético da Chesf (foto), repetindo o que aconteceu no Médio São Francisco com a Ride Juazeiro (BA) – Petrolina (PE).

Um modelo transmunicipal de desenvolvimento integrado no Submédio e Baixo São Francisco contemplará as convergências ignoradas pelas quatro fronteiras estaduais, aproveitando as potencialidades nascidas das identificações culturais, sociais, econômicas, e até geográficas, mais fortes para municípios no entorno das usinas da Chesf do que as aleatórias consequências do ajuntamento político de porções federativas da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. O resultado mais visível dessa arrumação sem critérios foi o surgimento de um subnordeste com maior taxa de abandono do conjunto regional, cada vez mais desregionalizado e desinstitucionalizado pelo centralismo federal e coronelístico.
Este modelo de integração facilitador de soluções para os problemas de saúde, saneamento, educação e segurança contribuirá ainda para desestimular tendências separatistas, fortes, por exemplo, nos municípios baianos limítrofes com Sergipe, sobretudo em Pedro Alexandre e Coronel João Sá, mas extensivas a Jeremoabo, Santa Brígida, Sítio do Quinto, Paripiranga, e assim por diante. Nesta área, até as chuvas chegam pelo lado sergipano e, não raro, por lá mesmo ficam.
Além dessa emblemática particularidade climática, pelo menos em Pedro Alexandre há um fato bem indicativo das suas ligações com o vizinho estado: é caso excepcional o registro de criança com nascimento no município pois as mães são transportadas até as maternidades de Carira ou Itabaiana e os filhos nascem sergipanos e não baianos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Caso Chesf serve de alerta para o Nordeste


Lula: Foi erro dos companheiros

Os feitos de Delmiro Gouveia são conhecidos e lhe valeram admiração nacional que perdura, 93 anos depois de ter sido assassinado, em 1917. O prejuízo para o Nordeste, causado por sua morte aos 54 anos de idade, não pode ser quantificada. Apesar de indiscutível pelo sentido visionário de sua obra. Basta considerar que o primeiro aproveitamento hidrelétrico na América Latina foi o da cachoeira de Paulo Afonso, na Usina de Angiquinho, construída por ele de 1911 a 1913, semente só transformada na árvore da Chesf em 1948. Para o empreendimento, trouxe da Itália o engenheiro Luigi Borella, que participou também da construção da Fábrica de Tecelagem da Pedra e - conjugando a geração de riqueza com o social – da Vila Operária.
Assim lançou as bases para as grandes usinas do Complexo de Paulo Afonso (a partir de 1955) e de Sobradinho, Itaparica e Xingó, com seus respectivos acampamentos. Segundo Plínio Cavalcanti, “se Delmiro Gouveia vivesse mais oito anos, o Nordeste brasileiro poderia resolver nesse espaço de tempo o seu problema de viação carril”, pois, “em cinco anos, construiu 520 km de estradas”: 20 para Água Branca (AL); 300 para Quebrangulo e Palmeira dos Índios, em Alagoas; 25 para Paulo Afonso (BA) e 151 para Garanhuns (PE).
É de esperar-se que a memória e o exemplo de Delmiro Gouveia, avivados pelo seu sesquicentenário e pelo centenário de Angiquinho, que transcorrerão em 2013, iluminem a luta mais ampla pelo desenvolvimento do Nordeste, depois de terem contribuído para a defesa da autonomia e fortalecimento da Chesf. Até ilustrada com referência histórica às tentativas sulistas de condenar investimentos na Usina Paulo Afonso I, com o argumento de que a energia nela gerada ficaria sem consumo.
Isso nos anos 40.
Hoje, não apenas no Norte, Nordeste e Centro-Oeste, mas também no Sul, e no Sudeste, foco principal dessa movimentação antipatriótica, é consumida a energia produzida pelas usinas da Chesf, que se pretendeu aprisionar no Rio de Janeiro. Num escritório de edifício com mais de 40 andares, empreendimento multimilionário projetado pelos donatários do setor elétrico. Afinal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu que houve falhas no projeto de reestruturação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, cobrando do ministro de Minas e Energia Márcio Zimmermann, a correção de “erros cometidos pelos companheiros”.
Eis chegado o momento para o grande debate, com seu epicentro no desenvolvimento do Nordeste, capaz de sacudir o País no mesmo grau de intensidade da resistência à desregionalização intentada pelo autoritarismo centralizado, ainda um pouco enrustido mas já mostrando as garras. Risco, é claro, não limitado à Chesf, que pode ser alvo de outra investida. Porque extensivo à Sudene, recriada no papel, ao Banco do Nordeste, ao Dnocs, à Codevasf e à Embrapa.
Num todo de restrições ameaçadoras das conquistas alcançadas, nos anos 50 sobretudo, pelas lideranças e povo nordestino, para assumir, com pragmatismo, sua territorialidade, no que for estrategicamente necessário. Por exemplo, a criação de Regiões Administrativas Integradas de Desenvolvimento, como a dos Pólos Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), no Médio São Francisco, já criada por Lei Complementar, e a dos Pólos Paulo Afonso (BA), Petrolândia (PE), Delmiro Gouveia ou Piranhas (AL) e Canindé ou Poço Redondo (SE), a ser criada no Submédio e Baixo São Francisco. E só dependente da força de sua cidadania e da maioridade política dos seus representantes nas câmaras e nos executivos.
O governo brasileiro tardou mais de quatro décadas para instalar a primeira usina (1955) após Angiquinho(1913). E ensaiou, com uma simples canetada, esvaziar a empresa símbolo da região, assim cantada por Luiz Gonzaga: “Delmiro deu a idéia/Apolónio aproveitou/ Getúlio fez o decreto/ e Dutra realizou.” O atual presidente talvez tenha querido evitar arremate desonroso para esses versos em louvor da Chesf: “E Luiz Inácio enterrou.” Que complete o arrependimento preservando as instituições do Nordeste, favorecendo-as com orçamento regionalizado e autonomia regional.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Chesf: da semente à árvore, 35 anos


ANGIQUINHO

USINA PAULO AFONSO I

DELMIRO GOUVEIA

Os feitos de Delmiro Gouveia são conhecidos e lhe valeram uma admiração nacional que perdura, 93 anos depois de ter sido assassinado, em 1917. O prejuízo para o Nordeste, causado por sua morte aos 54 anos de idade, não pode ser quantificado. Apesar de indiscutível pelas suas proporções. Basta considerar que o primeiro aproveitamento hidrelétrico na América Latina foi a da cachoeira de Paulo Afonso, na Usina de Angiquinho, construída por ele de 1911 a 1913, uma semente só transformada na árvore da Chesf em 1948.
Para o empreendimento, trouxe da Itália o engenheiro Luigi Borella, que participou também da construção da Fábrica de Tecelagem da Pedra e – conjugando a geração de riqueza com o social – da Vila Operária. Assim lançou as bases para as grandes usinas do Complexo de Paulo Afonso (a partir de 1955) e de Sobradinho, Itaparica e Xingó, com seus respectivos acampamentos, na Bacia do São Francisco.
Segundo Plínio Cavalcanti, “se Delmiro Gouveia vivesse mais oito anos, o Nordeste brasileiro poderia resolver nesse espaço de tempo o seu problema de viação carril”, pois, “em cinco anos, construiu 520 km de estradas”: 20 para Água Branca; 300 para Quebrangulo e Palmeira dos Indios, em Alagoas; 25 para Paulo Afonso (BA) e 151 para Garanhuns (PE).
É de esperar-se que a memória e o exemplo de Delmiro Gouveia, avivados pelo seu sesquicentenário e pelo centenário de Angiquinho, a serem comemorados em 2013, iluminem a luta em defesa da autonomia e do fortalecimento da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco. Até ilustrada com a citação do blá-blá-blá antinordestino dos anos 40, insistente na condenação de investimentos na Usina Paulo Afonso I, sob o argumento de que a energia nela gerada ficaria sem consumo. E com o reforço afinal manifestado pelo governador Eduardo Campos, a favor da recomposição da autonomia da Chesf, sugerindo que a Eletrobras acompanhe o ingresso de suas subsidiárias nas sociedades de propósitos específicos (SPEs), espécie de parcerias entre empresas para realização de obras.
É o momento para um debate, com seu epicentro no desenvolvimento do Nordeste, que sacuda o País no grau de intensidade da resistência à desregionalização, traduzida esta num processo centralizador, quase imperial. Risco, é claro, que não se limita à Chesf, diminuída no seu poder de decisão para operações a somente 0,5% (R$ 22,6 milhões) do seu capital social. Mas igualmente para a Sudene, Dnocs, Codevasf. Embrapa e mesmo BNB, quem sabe sacrificado no altar do BB, elevado a Petrobras do setor financeiro, como está sendo a Chesf, no altar da Eletrobras, a Petrobras do setor elétrico. Num todo de restrições anuladoras de um esforço, nos anos 50, das lideranças e do povo nordestino, para assumir sua territorialidade, no que for estrategicamente necessário. Por exemplo, a criação de Regiões Administrativas Integradas de Desenvolvimento, como a dos Pólos Juazeiro (BA) e Petrolina (PE), no Médio São Francisco, já criada por Lei Complementar, e a dos Pólos Paulo Afonso (BA), Petrolândia (PE), Delmiro Gouveia ou Piranhas (AL) e Canindé do São Francisco ou Poço Redondo (SE), a ser criada, no Submédio e Baixo São Francisco.
Sem esquecer o Instituto Nacional do Semiárido (INSA/MCT), com o projeto Farmácia Viva, destinado a “resgatar e valorizar a sabedoria e a cultura popular, devolvendo, de forma científica, informações que irão beneficiar a comunidade em relação aos recursos fitoterapêuticos locais”.Vale destacar a possibilidade da possível associação com o Instituto Xingó, também vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, e criado para cumprir o papel de matriz tecnológica do sertão, com atuação em 29 municípios de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe, com sede em Canindé.
A Chesf demorou mais de quatro décadas para instalar a primeira usina (1955) depois de Angiquinho (1913). O governo não pode, com uma simples canetada, esvaziar o sonho do maior dos nordestinos: “Delmiro deu a ideia, Apolônio aproveitou, Getúlio fez o decreto e Dutra realizou”. Será que os versos tão bem cantados por Luiz Gonzaga terão um acréscimo por arremate: “E Luiz Inácio enterrou”?

quarta-feira, 31 de março de 2010

A Chesf cai O Nordeste fica de cócoras



Nesse episódio sintomático do esvaziamento da Chesf, as reações se limitaram a Pernambuco. Apesar do silêncio do seu governador Eduardo Campos, Compartilhado com seu colega da Bahia, Jaques Wagner.
Destaco duas manifestações. A do empresário João Carlos Paes Mendonça, presidente do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC): ‘’ Em nome do Nordeste, não posso ficar calado. As lideranças políticas estão paradas. É preciso que todos se unam para manter a Chesf em nosso Estado”
E a de João Paulo Aguiar, na entrevista ao JC Economia, 28/3/2010: “ Não há clareza, não há transparência, não há discussão. Não há participação do Legislativo, através das comissões de Minas e Energia do Senado o presidente é o senador Paulo Paim (PT – RS), da Câmara Federal (o presidente é o deputado Mário Negromonte (PP-BA), dos governos estaduais. O Ilumina (ONG onde ele atua) provocou questionamentos a esse projeto quando ele nasceu em 2007. Quando ele ressurgiu em 2008 e 2009, começamos a trabalhar no assunto, mas não tínhamos conhecimento da visão holística da questão e não tivemos sucesso”
Ato falho
“Por incrível que pareça, foi o presidente da Eletrobrás ( José António Muniz Lopes), que, num ato falho, investiu contra a identidade e o nome da Chesf, que é um dos poucos símbolos míticos que ainda funcionam como aglutinante. Aí a imprensa, o Executivo e o Legislativo começaram a ter interesse neste processo.”
“Além da marca, o que já mudou”, indagou o JC, E João Paulo respondeu: “Por um ato administrativo, a Eletrobrás subordinou o conselho deliberativo da Eletrobrás ao seu. É uma perda relevante. São perdas desse tipo que estamos questionando”.
Contra o interesse nacional
“A Eletrobrás, destacou João Paulo, age na linha contrária do interesse nacional, mas é inteligente. Ela cooptou os funcionários oferecendo todas as benesses,como equiparação salarial (com o pessoal que trabalha na sede), plano de saúde mais generoso e (assim) desarmou as possíveis resistências”.
Explicação
“Esse processo, acrescentou, ressurgiu há três anos, quando a Eletrobrás se viu sem função em decorrência das mudanças que ocorreram no setor elétrico. As coisas mais importantes que a Eletrobrás fazia saíram das mãos dela para órgãos de competência específica, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), entre outros.
O factóide da Nicarágua
Foi então que o JC ironizou: ‘’Mas dizem que esse processo vai internacionalizar a atuação da Chesf, que foi iniciada com a usina da Nicarágua anunciada há duas semanas.” E João Paulo Aguiar disparou: ‘’Essa Usina e um factóide que foi trazido ás pressas, por que já tinha começado uma reação da sociedade ao processo de esvaziamento da Chesf. Esse anúncio foi para criar um fato positivo que apagasse o impacto da perda de identidade da Chesf’’.
O palanque da omissão
Tudo isso que vem acontecendo com a maior empresa da região pode ser traduzido no título colocado para este texto: A Chesf cai. O Nordeste fica de cócoras.
Aquele palanque armado na Praça Lindinalva Cabral com o objetivo de anunciar a inauguração de 84 celas para presos e a entrega de 15 viaturas policiais ficará na memória dos pauloafonsinos pela força da imagem da queda da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, conjugada com o agachamento das lideranças regionais e locais. Lá estavam, 24 horas após o desrespeito cometido em 22 de março, quando a Chesf passou a sobrenome da Eletrobras sem acento, o governador Jaques Wagner e parte do seu Secretariado, os deputados federais Mário Negromonte, presidente da Comissão de Minas e Energia da Camâra, e Lídice de Mata, coordenadora da bancada baiana, os deputados estaduais Marcelo Nilo, filho de Antas e presidente da Assembléia Legislativa, e Paulo Rangel, chesfiano de Paulo Afonso, além de prefeitos e vereadores.
Em discursos laudatórios, embora curtos, ou longo como o do governador, este exaltando a cartilha de Lula e minimizando o papel da imprensa, falaram sobre tudo menos sobre o principal, a escalada de ofensivas contra a Chesf. Numa estratégia à base de surpresas, própria da tática de guerrilhas, que deve servir de alerta aos arraiais do BNB e da Caixa Econômica Federal. Se a Chesf é sacrificada para a Eletrobrás se transformar numa grande Petrobrás do sistema elétrico, por que não o Banco do Nordeste e a CEF serem sacrificadas para fazer do Banco do Brasil a grande Petrobrás do sistema financeiro?
E assim irá se completando o cerco que já se fez aos poderes legislativo e judiciário e a parte do eleitorado refém do assistencialismo coronelístico sem porta de saída. Ou seja, o Nordeste, institucionalmente falando, migrando e não de pau- de - arara do semi-árido para o deserto saárico, reservado o oásis para o autoritarismo declarado ou até, quem sabe mais lá na frente, para uma versão brasileira do socialismo bolivariano. Eu não duvido. E você?