quarta-feira, 31 de março de 2010

A Chesf cai O Nordeste fica de cócoras



Nesse episódio sintomático do esvaziamento da Chesf, as reações se limitaram a Pernambuco. Apesar do silêncio do seu governador Eduardo Campos, Compartilhado com seu colega da Bahia, Jaques Wagner.
Destaco duas manifestações. A do empresário João Carlos Paes Mendonça, presidente do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação (SJCC): ‘’ Em nome do Nordeste, não posso ficar calado. As lideranças políticas estão paradas. É preciso que todos se unam para manter a Chesf em nosso Estado”
E a de João Paulo Aguiar, na entrevista ao JC Economia, 28/3/2010: “ Não há clareza, não há transparência, não há discussão. Não há participação do Legislativo, através das comissões de Minas e Energia do Senado o presidente é o senador Paulo Paim (PT – RS), da Câmara Federal (o presidente é o deputado Mário Negromonte (PP-BA), dos governos estaduais. O Ilumina (ONG onde ele atua) provocou questionamentos a esse projeto quando ele nasceu em 2007. Quando ele ressurgiu em 2008 e 2009, começamos a trabalhar no assunto, mas não tínhamos conhecimento da visão holística da questão e não tivemos sucesso”
Ato falho
“Por incrível que pareça, foi o presidente da Eletrobrás ( José António Muniz Lopes), que, num ato falho, investiu contra a identidade e o nome da Chesf, que é um dos poucos símbolos míticos que ainda funcionam como aglutinante. Aí a imprensa, o Executivo e o Legislativo começaram a ter interesse neste processo.”
“Além da marca, o que já mudou”, indagou o JC, E João Paulo respondeu: “Por um ato administrativo, a Eletrobrás subordinou o conselho deliberativo da Eletrobrás ao seu. É uma perda relevante. São perdas desse tipo que estamos questionando”.
Contra o interesse nacional
“A Eletrobrás, destacou João Paulo, age na linha contrária do interesse nacional, mas é inteligente. Ela cooptou os funcionários oferecendo todas as benesses,como equiparação salarial (com o pessoal que trabalha na sede), plano de saúde mais generoso e (assim) desarmou as possíveis resistências”.
Explicação
“Esse processo, acrescentou, ressurgiu há três anos, quando a Eletrobrás se viu sem função em decorrência das mudanças que ocorreram no setor elétrico. As coisas mais importantes que a Eletrobrás fazia saíram das mãos dela para órgãos de competência específica, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Empresa de Pesquisa Energética (EPE), entre outros.
O factóide da Nicarágua
Foi então que o JC ironizou: ‘’Mas dizem que esse processo vai internacionalizar a atuação da Chesf, que foi iniciada com a usina da Nicarágua anunciada há duas semanas.” E João Paulo Aguiar disparou: ‘’Essa Usina e um factóide que foi trazido ás pressas, por que já tinha começado uma reação da sociedade ao processo de esvaziamento da Chesf. Esse anúncio foi para criar um fato positivo que apagasse o impacto da perda de identidade da Chesf’’.
O palanque da omissão
Tudo isso que vem acontecendo com a maior empresa da região pode ser traduzido no título colocado para este texto: A Chesf cai. O Nordeste fica de cócoras.
Aquele palanque armado na Praça Lindinalva Cabral com o objetivo de anunciar a inauguração de 84 celas para presos e a entrega de 15 viaturas policiais ficará na memória dos pauloafonsinos pela força da imagem da queda da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, conjugada com o agachamento das lideranças regionais e locais. Lá estavam, 24 horas após o desrespeito cometido em 22 de março, quando a Chesf passou a sobrenome da Eletrobras sem acento, o governador Jaques Wagner e parte do seu Secretariado, os deputados federais Mário Negromonte, presidente da Comissão de Minas e Energia da Camâra, e Lídice de Mata, coordenadora da bancada baiana, os deputados estaduais Marcelo Nilo, filho de Antas e presidente da Assembléia Legislativa, e Paulo Rangel, chesfiano de Paulo Afonso, além de prefeitos e vereadores.
Em discursos laudatórios, embora curtos, ou longo como o do governador, este exaltando a cartilha de Lula e minimizando o papel da imprensa, falaram sobre tudo menos sobre o principal, a escalada de ofensivas contra a Chesf. Numa estratégia à base de surpresas, própria da tática de guerrilhas, que deve servir de alerta aos arraiais do BNB e da Caixa Econômica Federal. Se a Chesf é sacrificada para a Eletrobrás se transformar numa grande Petrobrás do sistema elétrico, por que não o Banco do Nordeste e a CEF serem sacrificadas para fazer do Banco do Brasil a grande Petrobrás do sistema financeiro?
E assim irá se completando o cerco que já se fez aos poderes legislativo e judiciário e a parte do eleitorado refém do assistencialismo coronelístico sem porta de saída. Ou seja, o Nordeste, institucionalmente falando, migrando e não de pau- de - arara do semi-árido para o deserto saárico, reservado o oásis para o autoritarismo declarado ou até, quem sabe mais lá na frente, para uma versão brasileira do socialismo bolivariano. Eu não duvido. E você?

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