sexta-feira, 4 de setembro de 2009

BR-235, do Nordeste Seco à Amazônia

A BR-235, entre Carira e Jeremoabo


Conheci a BR-235, ou a Aracaju-Juazeiro, assim chamada em Sergipe e Bahia, há 66 anos, ainda sem saber de sua existência no mapa rodoviário. Quando fui levado, em 1943, para estudar na cidade. Uma viagem de três dias, com meu pai, e percurso inferior a 200 quilômetros. Primeiro, num domingo de março, doze léguas a cavalo, de Serra Negra, hoje Pedro Alexandre, a Carira. Depois, segunda-feira à tarde, de ônibus (marinete se dizia), até Frei Paulo, com outro pernoite. E, finalmente, na terça-feira, após café-da-manhã em Areia Branca, chegada a Aracaju, ou à Rua Propriá, entre Siriri e Pedro Calazans.

Minha vida foi um aprendizado prático de geografia e de história. Fui descobrindo que a estrada por onde chegava à capital sergipana não era uma qualquer, tinha biografia, como obra a ser executada pelo DNOCS, dona do seu destino, dentro do programa de combate à seca, que incluia a construção de grandes barragens. Na ida para as aulas e na volta para as férias, fui sendo apresentado, como criança precocemente observadora, e depois adolescente, à enrolação dos nossos governantes. Reveladora naquela pavimentação de ritmo tão lento quanto a dos cágados com os quais brincava no quintal de casa, em tempos sem Ibama. E também na falta de aguadas que persistiu até hoje.

É, demorou, mas, um dia, percebi que o asfalto tinha chegado a Itabaiana. Mais anos somados e, outra descoberta, estava se aproximando de Frei Paulo; em seguida, de Carira, as cidades dos meus pernoites, a caminho do saber. Mas, decepção que perdura, na divisa BA-SE, a obra empacou de vez. O que aconteceu com a BR-235, entre Itabaiana e Carira, antes do asfaltamento, e Jeremoabo, até 1964, fica para ser contado, junto com homenagem póstuma a um herói anônimo, o servidor público Vieira Lima, responsável pela conservação de Itabaiana a Jeremoabo, a partir da Residência do DNOCS/DNER, na localidade de Abóbora.

Cuidava dessa estrada como se ela fosse um ser humano. E morreu à míngua, punido pelo regime militar, após denúncias de pessoas mesquinhas, pelo crime de ler, nas escassas horas vagas, jornais de esquerda. E o que era um modelo de conservação de estrada, mesmo de barro, passou a somatório crescente de trechos intrafegáveis. Situação só amenizada pelas intervenções emergenciais de prefeitos, com recursos municipais e eventual ajuda de fora, para evitar um apagão viário.

Às vésperas das eleições, a novela da BR-235, com mais vilões do que mocinhos, volta ao telão do governo, com recursos no orçamento para afinal concretizar o estirão de asfalto desde a divisa BA-SE à divisa BA-PI, tornando realidade a Aracaju-Juazeiro. Acho que a República deveria chegar aqui, nesse pedaço sagrado de chão brasileiro, com um pedido de desculpas. E até de perdão, se quiser incluir o massacre de Canudos. Não trombeteando editais de licitação fatiados, num varejo imediatista, para a visibilidade de lideranças políticas que estão mais para os executores daquele genocídio ainda impune do que para a identificação com suas vítimas.

Euclides: Centenário de morte

E que a prioridade para o trecho Uauá-Canché, deixando para depois Jeremoabo-Carira, tenha pelo menos outra justificativa, a de homenagear Euclides da Cunha, o autor de “Os Sertões”, pelo centenário de sua morte, no próprio teatro da guerra que exterminou o beato Antônio Conselheiro, e seus seguidores, que só queriam orar e trabalhar. A BR-235 deve avançar mais ainda no seu simbolismo, significando um grande abraço da Amazônia com o Nordeste Seco, desde o Pará, no Rio Araguaia – só muito depois descobriria -, passando pelo Tocantins, Maranhão, Piauí, Bahia, até Sergipe.

Até o porto de Aracaju, para onde possa ser transportado o que for produzido às margens dos rios São Francisco e Vaza-Barris, este perenizado, para não continuar, como registrou Euclides da Cunha, “uma fantasia de cartógrafo”. Situação que já está sendo transformada pela barragem, em construção, do Gasparino, entre Coronel João Sá e Sítio do Quinto, e poderá culminar com a perenização viabilizada por águas transpostas do Velho Chico (Leia no jornal A Tarde, Edição de 15/9/2009).

A nascente do Vaza-Barris

3 comentários:

Unknown disse...

moro em carira se a 29 anos e um dos sonhos do povo é ver essa br toda pronta, pois vai traser mais desenvlvimento para a regiao.

Anônimo disse...

VALEU PELO ARTIGO, QUE TODOS DESTA REGIÃO POSSAM LER, POIS CONSIDERO UMA FALTA DE VERGONHA DE TANTOS QUE PASSARAM PELO GOVERNO E NÃO DERAM A MINIMA ATENÇÃO PARA O POVO DESTA REGIÃO, UMA VEZ QUE FAZEMOS PARTE DE UMA FEDERAÇÃO E DEVERIAMOS SER TRATADOS COM IGUALDADE, ERA O QUE CONSELHEIRO PREGAVA "CERTAMENTE", PEDIDO DE PERDÃO É POUCO, O PERDÃO DEREVERIA SER COMPENSADO POR OBRAS. "POVO DE UAUÁ"

radijan disse...

ola boa noite ,.
é uma vergonha !! fui de carira até sitio do quinto semamana passada,
é muito ruim esta a estrada. nunca vinada igual ., espero que as altoridades tomem ciencia dakela estrada? parabens pelo artigo .