A lição de Pedro II ignorada por Lula e Sarney
A curiosidade despertada pela lembrança do sesquicentenário da excursão de Pedro II à cachoeira de Paulo Afonso, inserida no último artigo, me levou a antecipar texto sobre o assunto, a partir do Diário da Viagem ao Norte do Brasil, no que se refere à Bahia. Com anotações do Imperador, ilustradas por desenhos do seu próprio punho, foi publicado, em 1959, pela Universidade da Bahia, iniciativa do reitor Edgard Santos, como edição comemorativa do primeiro centenário da visita imperial, feita em parceria com a Livraria Progresso Editora, e apoio do professor Pinto de Aguiar. Incluiu textos selecionados da Narração dos Preparativos, Festejos e Felicitações que tiverão lugar na Província da Bahia, organizada pelo seu editor, o livreiro Epyphanio Pedroza, em 1859, o ano da visita de Pedro II.
Faria parte ainda, como apêndice ao volume, Os Cortesãos e a Viagem do Imperador, firmado com as iniciais L.M (possível disfarce de Landulfo Medrado), “apresentando, segundo Pinto de Aguiar, a face menos áulica e reverente da jornada imperial”. Raridade bibliográfica, este opúsculo, ao menos, bem que poderá ser reeditado por quem esteja tocado pelo mesmo espírito de empreendedorismo de Edgard Santos e Pinto de Aguiar.
D. Pedro II fez a viagem em 1859. Por mais de um mês, demorou-se na Bahia. Sua chegada a Salvador foi no dia 6 de outubro e, além de visitar todo o Recôncavo, excursionou à cachoeira de Paulo Afonso, aonde chegou no alvorecer do dia 20, viajando pelo Baixo São Francisco desde a sua foz. “Na distância de menos de légua-anotou no Diário – é que se ouviu o ruído da cachoeira”. E, sem esconder a admiração: “É belíssimo o ponto de que se descobrem 7 cachoeiras que se reúnem na grande”.
As viagens tiveram, guardadas algumas semelhanças, motivações diversas, e sempre foram estimuladas por pessoas próximas ao Imperador. As divisões provocadas pela Revolução Praieira, por exemplo, justificaram o destino Pernambuco. Antes, em 1845, a jornada para o Sul, com a presença de Pedro II no Rio Grande, após as tropas imperiais terem batido os Farroupilhas, seguindo-se Santa Catarina e São Paulo, e, mais tarde, em 1847, cidades e vilas da Província do Rio de Janeiro. Marcadas por um sentido político, se favoreceram a monarquia, fortalecendo suas ligações com a sociedade, até pela concessão de títulos nobiliárquicos, condecorações e outras honrarias, também ajudaram a preservar a unidade nacional.
Como e para que comemorar
Decorridos 150 anos, como e com que finalidade comemorar o sesquicentenário? As respostas variarão por certo, mas pelo menos num aspecto, serão dadas no terreno comum da mesma constatação de que a República, apesar do seu sentido etimológico de coisa pública, ainda tem muito a aprender com o Segundo Reinado. Assinale-se o fato de que o mordomo Paulo Barbosa, “desde tempos antes, como registra Lourenço Luiz Lacombe, providenciava os meios necessários para prover as despesas”. Isso porque todos os gastos da viagem “correram por conta do Imperador, como se ele seguisse como simples particular”. O que explica o entusiasmo de Lacombe: “Bons tempos em que um chefe de estado, viajando em função do seu cargo, em visita oficial, pagava de seu bolso a comitiva e serviçais e ainda era obrigado a contrair um empréstimo”. Isso, em 1959, imagine-se qual seria hoje, em 2009, o espanto dele diante do pacto Lula/Sarney e do que está por detrás dessa capitulação do Senado, decidida, para proteger-se, pelo seu presidente.
Este cotejo de comportamentos estará implícito e/ou explícito nas recordações do sesquicentenário. As respostas ao como e para que continuarão sendo tratadas em próximos artigos. E um deles, em especial, sobre Pedro II e a cachoeira de Paulo Afonso, trará propostas sobre como transformar as comemorações da excursão imperial em estimulo para o turismo e criação da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Submédio e Baixo São Francisco, junto com o mais importante de todos os estímulos, aquele direcionado para o padrão ético das gestões municipais, para bons tempos, hoje também, no Sertão e na República em geral. Não é o caso de restaurar a Monarquia, mas de purificar a República (Leia este artigo no jornal A Tarde).
Um comentário:
Prezado Clementino
É mais fácil restaurar a monarquia do que esperar um ato de nobreza por parte dos nossos governantes republicanos.
Parabéns pelo artigo.
Saúde e paz.
Virgílo Agra
virgiliowagra@yahoo.com.br
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