quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
Discriminação Contra o Sertão de Paulo Afonso
Dom Mario: 29 de janeiro de 1938 — 13 de novembro de 1998
Paulo Afonso (Do correspondente Clementino Heitor de Carvalho) – O bispo da diocese, dom Mário Zanetta, disse que “Paulo Afonso é discriminada duas vezes. Primeiro porque é Nordeste e depois, por ser Nordeste da Bahia”. Defendeu o estabelecimento de “uma política agrícola e agrária que favoreça a real ocupação das terras”, destacando as potencialidades da irrigação e preveniu contra os riscos de um processo abrangente de privatizações que inclua a própria Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF).
Sobre o governo Collor, D. Mário Zanetta disse que a sua expectativa é no sentido de que “o novo presidente não só cumpra as promessas eleitorais como tenha a força de conduzir as elites ao processo de desenvolvimento, sem sacrificar o trabalhador e que, como nordestino, possa privilegiar esta região, por enquanto só privilegiada pelas secas e pelas enchentes”.
Italiano da região piemontesa, cuja capital é Turim, D. Mário chegou ao Brasil em 1969, indo diretamente para a diocese de Senhor do Bonfim, à qual pertencia a então paróquia de Paulo Afonso, para onde foi transferido três semanas depois, sendo atualmente o seu bispo.
Gênio extrovertido, é uma figura popular em toda a região. Dirigindo o seu carro, ele visita sua área territorial, onde existem apenas 125Km de asfalto, desconhecido em 16 dos 24 municípios nela compreendidos. Por isso mesmo conhece como ninguém as estradas. Daí suas informações precisas:
- Não se compreende o descaso para com uma rodovia da importância estratégica da BR-235, no longo trecho em que ela atravessa a Bahia, sendo asfaltada apenas até Carira, em Sergipe. Daí até Jeremoabo, o segmento é precário. De Jeremoabo a Canudos, aventuroso. De Canudos a Uauá, razoável. De Uauá a Juazeiro, 40km de barro, pegando finalmente o asfalto na Caraíba Metais.
Mas o que o leva a percorrer tanto chão? “O nosso trabalho pastoral – disse – tem esse rumo: evangelizar, promover, conscientizar e transformar. Evangelizar, abrir os olhos; promover, levantar da situação de não-humanidade; conscientizar, tomar consciência de que o projeto de Deus não é este; transformar, identificar o cristão com o projeto de Deus.
DUPLA DISCRIMINAÇÃO
- Este primeiro ano da nova década – disse D. Mário – é fundamental e decisivo para que as classes populares tomem consciência do grande valor que têm e do valor do seu voto como região homogênea nos problemas, no sofrimento e na marginalização. Levantem a cabeça, se manifestem, deêm um basta à marginalização de que são vítimas, fazendo do seu voto não um instrumento não só de protesto, mas de mudança efetiva.
Sobre a discriminação do nordeste baiano, ele afirmou: “Paulo Afonso é discriminado duas vezes. Primeiro, por ser Nordeste e, depois, por ser nordeste da Bahia. Os principais problemas da região são de infra-estrutura e de serviços. Os estruturais passam pela fixação de uma política agrícola e agrária que favoreça a real ocupação das terras, de tal sorte que os trabalhadores encontrem incentivos técnicos e financeiros que permitam o desenvolvimento do campo. É preciso ter em vista que a vocação de 80% de nossa área é para a agricultura.
Os problemas da microrregião de Paulo Afonso começam pelo fato de ser a grande desculpa de aqui estar esse gigante, a CHESF, visto com a capacidade de resolver todos os problemas, quando mal pode resolver os seus. É preciso ter o cuidado de reconhecer as dificuldades atravessadas pela CHESF, até como resultante de uma conjuntura nacional desfavorável, mas sem nos deixar sufocar por falsos alarmes que justifiquem até um processo de privatização, abrangendo mesmo o Projeto Xingó.
IRRIGAÇÃO
Quando destaca as potencialidades de irrigação, D. Mário se mostra contrariado com o grande desperdício de água, citando o exemplo do Rio Vaza-Barris, que atravessa os municípios de Canudos, Jeremoabo e Coronel João Sá, e vai desembocar, quase intocado, no Atlântico. Ele ressalta seu aproveitamento em Cocorobó e em outra experiência, esta de particulares, que trouxeram para aquela área os cultivos irrigados nas margens do Pajeú, em Pernambuco, e do próprio São Francisco. E reconhece que o grande impulso para o desenvolvimento regional será dado pelos projetos de irrigação do reassentamento de Itaparica, compreendendo 20.000ha, enfatizando a necessidade de que as milhares de famílias arrancadas dos seus lares e das suas ocupações recebam logo os lotes irrigados para sair da ociosidade forçada (A TARDE MUNICÍPIOS, 4 de Maio de 1990).
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