terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A Região Integrada da Pátria Chesf

Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento é uma idéia, viabilizada pela Constituição de 1988, que está no útero da campanha pelo aproveitamento da energia da Cachoeira de Paulo Afonso. Não se trata de uma gravidez indesejada e essa criatura, anunciada por Antônio José Alves de Souza, primeiro presidente da Chesf, após longa gestação, deverá vir à luz, sem trocadilho e sem cesariana, em 2008, quando a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, resultado imediato da campanha, completará 60 anos de existência.

O seu berço será o espaço geográfico das atividades de geração de energia, a Pátria Chesf, usado o vocábulo na acepção de terra natal, com território que se estende pelo trecho do Rio São Francisco, compreendido entre Petrolândia (PE) e Piranhas (AL), abrangendo Paulo Afonso (BA), Delmiro Gouveia (AL), Canindé do São Francisco (SE), como outros referenciais.


O complexo geoeconômico.

Todo este complexo geoeconômico será beneficiado pelo impulso integrado de municípios e dos Estados de Pernambuco, Alagoas, Bahia e Sergipe e da parceria federativa concretizada pela União, esta superando sua virtualidade persistente. Um futuro construído segundo roteiro traçado, em suas linhas gerais, por Antônio José Alves de Souza, no capítulo XII da monografia Paulo Afonso, que teve sua terceira edição em 1956, e foi o primeiro lançamento, em 1954, da Coleção Mauá, Ministério da Viação e Obras Públicas, Serviço de Documentação.

Um roteiro a ser atualizado, mas que não pode afastar-se de premissas estabelecidas, pelo primeiro presidente da Chesf, para quem “o objetivo final, o objetivo principal desse empreendimento deverá ser sempre o desenvolvimento dessa região”, cuidadosamente estudado”.


Esforço em vão

No capítulo “Paulo Afonso e o Desenvolvimento do Nordeste”, Alves de Souza revela que “os estudos necessários” e “as providências que devessem ser tomadas em conseqüências dos resultados desses estudos” foram solicitados pela Chesf, “visto não estarem eles nem dentro de sua alçada, nem dentro de suas possibilidades financeiras”. E lamentava: “Infelizmente não foi levado na devida consideração tal pedido”.

“Não tendo sido atendidos tais apelos aos Governos dos Estados interessados e às organizações de classes”, o então presidente Alves de Souza promoveu, através da Diretoria Comercial, “mesas redondas para debate do assunto”. Delas resultou “a nomeação de Comissões de Desenvolvimento Econômico. Só a de Pernambuco, porém, é que vem se reunindo regularmente e realizando trabalho interessante de estudo e propaganda”, informava.


O pressuposto

A instalação de indústrias (tema para outro artigo) defendida pelo primeiro presidente da Chesf partia de um pressuposto óbvio: “A energia em Paulo Afonso e em sua circunvizinhança será de preço muito baixo, visto como não estará incluída nesse preço a remuneração do vultoso capital representado por linhas de transmissão extensas e de voltagem elevada”.

O carioca Alves de Souza demonstrou mais sensibilidade para a região, onde queria ser sepultado, mas nela ficou apenas o coração, do que muitos políticos de nordestinidade da boca para fora, a começar de baianos que só se moviam para reivindicar a sede da Chesf... em Salvador, continuados hoje por guardiões e defensores apenas no discurso marqueteiro.

O nordestino nascido no Rio de Janeiro manifestou sua solidariedade à gente deste pedaço do Brasil que deu terras agricultáveis para servir de leito a barragens e abriu mão do seu mais valioso patrimônio natural, a Cachoeira de Paulo Afonso, para iluminar e desenvolver o Nordeste. O mesmo sentimento marcou a gestão de outro carioca nordestino (ou nordestino carioca?), Amaury Menezes, com sua lição de ecologia que vai sendo esquecida.


Cenário definido

As atividades econômicas previstas e defendidas por Alves de Souza nas proximidades de Paulo Afonso, “principalmente” com apoio dos Governos dos Estados da Bahia, de Alagoas, de Sergipe e de Pernambuco, têm já definido o seu cenário, a ser ocupado pelos atores, na Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento, à frente a Chesf, no marco comemorativo dos seus 60 anos, com as parcerias da nova Sudene, Codevasf, Embrapa, Sebrae, Universidades, OABs, Prefeituras, Câmaras de Vereadores, entidades representativas dos empresários, dos trabalhadores e da sociedade civil organizada.

Tudo isso a partir de uma agenda de prioridades, com base no trinômio educação, saúde e segurança, a ser definida em reunião, durante semana comemorativa dos 60 anos da Companhia e dos 50 anos de Paulo Afonso, no Memorial da Chesf, rumo a um desenvolvimento sustentável, inclusivo e sem desigualdades, com modelo e estratégia apartidários, levado em conta apenas o interesse coletivo.

Ah! Ia me esquecendo. O governador Jaques Wagner é carioca. Carioca baiano ou baiano carioca? Tanto faz. Contanto que leia pela cartilha de Alves de Souza e Amaury Menezes. (Texto postado pela primeira vez em 30/10/2007)

Nenhum comentário: