quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

2010, uma eleição global com discurso municipal


Os candidatos à sucessão do presidente Luiz Inácio da Silva ainda não foram definidos, mas o principal tema da pré-campanha eleitoral já está posto: a crise financeira internacional. E o palanque de Lula continua mais armado do que nunca, com a vantagem de uma mobilidade que o faz onipresente, no país e no exterior. A qualquer pretexto, quase sempre de alcance municipal.

Nesta primeira semana de dezembro, a “Festa da Luz”, em Recife, serviu para o presidente da República e o governador Eduardo Campos comemorarem a universalização da oferta de energia em Pernambuco. Foi quando Lula, ao lado da ministra Dilma Roussef, saiu-se com esta: “Poderíamos ter enrolado o planeta 30 vezes com esses 790 mil quilômetros de fios e quatro milhões de postes em cinco anos do programa (Luz para Todos)”.


(O ministro da Comunicação, Franklin Martins, está se revelando melhor aprendiz de matemática do que o ministro Guido Mantega, da Fazenda).


Em Olinda, onde entregou 128 casas (isto mesmo, 128 casas) a famílias carentes, Lula voltou a debochar da crise. “Vocês estão vendo na televisão uma crise no mundo, causada nos Estados Unidos.” E voltando a apostar na divisão social, garantiu: “Vamos mostrar àqueles que nunca olharam para os pobres como nós vamos derrotar essa crise”. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, no Senado, falou no mesmo tom depreciativo, após cobrança insistente dos jornalistas sobre o desempenho da economia brasileira, admitindo desaceleração em outubro, novembro e dezembro, já prevista “em razão da crise mundial”.

A crise que o povo, segundo Lula, vê na televisão


Dólar fecha acima de R$ 2,47 pela primeira vez desde 2005
Cristina Canas e Silvana Rocha, da Agência Estado



Ação do BC, que atuou com dois leilões de venda, não foi suficiente; trata-se da 5ª sessão consecutiva de alta
Cristina Canas e Silvana Rocha, da Agência Estado
SÃO PAULO - O dólar comercial fechou em alta pela quinta sessão consecutiva e acima de R$ 2,47 pela primeira vez em pouco mais de três anos. No encerramento dos negócios, a moeda norte-americana fechou no patamar máximo do dia, em R$ 2,475, com alta de 3,51%. Trata-se da maior cotação desde 9 de junho de 2005, quando ficou em R$ 2,4980, de acordo com levantamento do AE Taxas. Com este resultado, o dólar acumula alta de 9,18%. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), a moeda norte-americana também terminou no pico da sessão, cotada a R$ 2,474 (+2,81%).

Vale demite 1.300 funcionários
da Folha Online


A Vale do Rio Doce anunciou nesta quarta-feira 1.300 demissões no mundo, sendo 20% em Minas Gerais e as demais em unidades no Brasil e pelo mundo, segundo a assessoria de imprensa da mineradora. Outros 5.500 entram em férias coletivas escalonadas --80% em Minas-- e 1.200 estão em treinamento para serem realocados dentro da companhia.
Conforme a empresa, a reestruturação do quadro de funcionários é conseqüência da crise financeira internacional e resultado da redução das encomendas das siderúrgicas, principais clientes da Vale. Atualmente, a mineradora tem 62 mil funcionários no mundo.
Ainda segundo a Vale, a intenção é reduzir ao mínimo o número de demissões, devido ao elevado nível de qualificação e de investimento em treinamento.
Em relação às férias coletivas, os 5.500 funcionários atingidos pela medida devem parar de maneira escalonada. A previsão é que o revezamento ocorra até fevereiro.
A Vale informou no fim de outubro que vai reduzir sua produção de minério de ferro e outros minérios e subprodutos nos Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Amapá, além de plantas industriais e minas no exterior. Fora do país, sofrerão reduções de produção atividades localizadas na França, Noruega, China e Indonésia.
O presidente da Vale, Roger Agnelli, explicou que o corte de 30 milhões de toneladas métricas anuais na produção de minério de ferro da empresa é um "ajuste momentâneo" em razão do "fortíssimo rearranjo" que o mundo está passando por causa da crise financeira internacional.


Siderúrgicas
Entre as siderúrgicas, a ArcerlorMittal anunciou na última quinta-feira que pretende demitir até 9.000 empregados no mundo. As demissões serão feitas de forma voluntária. Elas atingirão primeiro os empregados dos setores não-produtivos, que trabalham em vendas, administração e serviços gerais. Nessas categorias, o grupo tem como meta reduzir seus gastos em US$ 1 bilhão, em resposta à atual crise financeira global.
A empresa empregava no final de 2007 cerca de 35,5 mil pessoas na América do Norte. O grupo não especificou o número de funcionários que possui nos Estados Unidos.
Também na semana passada, o grupo siderúrgico brasileiro Gerdau anunciou que vai antecipar a parada das subsidiárias Açominas e da Siderperú (Empresa Siderúrgica del Peru) para trabalhos de manutenção. A Gerdau admitiu que a medida também tem por objetivo reduzir a produção em um momento de queda da demanda mundial do aço por parte de clientes importantes, como os setores automobilístico e de construção.
Em reunião com investidores, o presidente do grupo, André Gerdau Johannpeter, reconheceu que a companhia pode tomar medidas semelhantes em outras fábricas, principalmente dos Estados Unidos e de outros países da América Latina, para adequar a produção a uma demanda mundial menor.
Segundo ele, a empresa prevê uma queda de 24% no volume de vendas para o último trimestre do ano em comparação com o mesmo período de 2007.
A régua e o compasso de 2010


A régua e o compasso de um 2010 global estão com a crise. Não apenas no discurso sobre ela, ou nas evasivas lulistas. Também no desempenho diante dela. No confronto governo x oposição. Visível até na disputa do presidente da República com o governador de São Paulo por espaço na economia. Cada passo tomado por Lula na tentativa de reduzir o impacto da crise no país está sendo seguido por José Serra. A jornalista da Agência Estado Christiane Samarco destaca o “tom cordial” desta competição entre o pré-candidato tucano e o presidente, avalista da chefe da Casa Civil, com exemplos no socorro às montadoras e no recolhimento adiado de impostos.
E se a gente acrescenta à forçada globalização de 2010, por conta da crise financeira, a presença de Barack Obama no comando dos Estados Unidos, a partir do próximo 20 de janeiro, e o impacto da mudança que ocorrerá em Washington sobre o mundo, a América Latina e, em especial, sobre o Brasil, aí é que se verá como a sucessão presidencial de 2010, apesar do coronelismo municipal de Lula, se travará em contexto global, pela primeira vez.

Brasil vai conhecer realidade
A oposição faz o que pode para mostrar outros números e exibir cenários menos iluminados. Mas os recursos midiáticos são escassos e a mobilidade está restrita aos espaços pouco visitados do Congresso Nacional. O senador Demóstenes Torres (DEM-GO), por exemplo, acha que a crise “vai fazer o Brasil se voltar à realidade e sepultar as belas mentiras de um tempo que foi próspero, mas, ao mesmo tempo, desperdiçado”. Para ele, o desempenho da economia mundial beneficiou o país com a prosperidade que “proporcionou dividendos de popularidade ao Governo e ao seu primeiro mandatário só comparável aos anos JK”.
E relaciona desvios que teriam afetado qualquer outro governo: “o escândalo da corrupção nos Correios, o mensalão, o valerioduto, os dólares na cueca, a atuação dos sanguessugas, a queda do ministro da Fazenda no episódio do caseiro Francenildo, o patrocínio de interesses escusos de Daniel Dantas, os US$5 milhões das FARC, a pusilanimidade ante as agressões e os prejuízos causados pelos vizinhos da América do Sul”.
Mas o discurso da oposição, principalmente dentro do Congresso Nacional, será contraditado pelo PT cuidando de evitar o que define como uso político da crise. Sem esconder o temor dos reflexos eleitorais de uma queda acentuada do nível de emprego. Os petistas incorporam a esse cuidado uma estratégia partidária para garantir a aprovação dos projetos de interesse do governo na Câmara e no Senado.
O enfraquecimento do governo no Parlamento, detectado nas fissuras exibidas pela base aliada, serve de amostragem de parte do cenário que se vai desenhando para 2010. É aquela história de boi sabe onde (e quando) arromba a cerca. O presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), desafiou o presidente da República com o gesto inusitado de devolver a Medida Provisória 446, batizada de “MP da Pilantropia”, por renovar certificados de entidades filantrópicas suspeitas de irregularidades.
As dificuldades do situacionismo se manifestam nos ensaios de rebeldia de um aglomerado parlamentar nascido de um presidencialismo de coalizão levado às últimas conseqüências e operado com expedientes nada republicanos. E crescem ajudadas pela disputa das presidências da Câmara e do Senado e por outras questões, entre elas a gula insaciável dos companheiros por maiores espaços na administração.
Petista dissidente

O senador Paulo Paim (PT-RS) coloca o fim do fator previdenciário como “questão de honra para o povo brasileiro” e lidera sucessivas vigílias no Senado, que vão assumindo dimensão nacional, em favor dos reajustes das aposentadorias e pensões vinculados aos ganhos anuais embutidos no salário mínimo. Trata-se de um movimento, de aberto confronto com o Planalto, que ganha adesões dentro e fora do Congresso, incluindo até as câmaras de vereadores além de organizações sindicais, sobretudo aquelas ligadas aos que já se aposentaram ou vivem de pensões.


Terceira vigília fortalece luta pelos direitos dos aposentados

Postamos a seguir o noticiário da Agência Senado sobre a terceira vigília:

“A terceira vigília em defesa dos interesses dos aposentados, que começou na noite de ontem (2), continuou por toda a madrugada e foi encerrada às 6h05 desta quarta-feira (3), tendo como último orador o senador Sérgio Zambiasi (PTB-RS). As outras duas vigílias ocorreram igualmente no Plenário do Senado nos dias 18 e 26 de outubro, a primeira com encerramento às 6h do dia 19 e a segunda à 1h25 do dia 27.
A mobilização dos senadores, que incentivou a realização de vigílias em assembléias legislativas como na do Rio Grande do Sul e em vários municípios brasileiros, tem como objetivo sensibilizar a Câmara dos Deputados para a aprovação de três projetos, que já passaram pelo crivo do Senado Federal - os projetos de lei do Senado (PLS) 296/03, que acaba com o chamado fator previdenciário , e 58/03, dispondo sobre a recomposição das perdas de rendimentos sofridas por aposentados e pensionistas; e também o projeto de lei da Câmara (PLC 42/07), que assegura aos benefícios mantidos pela Previdência Social o mesmo reajuste do salário mínimo.

Apoio da CUT e da Força Sindical

A terceira vigília na verdade resultou do prolongamento da sessão deliberativa do Senado, iniciada às 14h de ontem. Em seu início, foi presidida pelo senador Garibaldi Alves Filho, que hipotecou apoio ao movimento e à causa dos aposentados. Representantes de entidades como Confederação dos Aposentados do Brasil (COBAP), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical e Nova Central, entre outras, acompanharam os trabalhos a partir da galeria e da área em Plenário reservada a convidados.
Centro da mobilização deslocado para a Câmara

De acordo com o senador Paulo Paim, o centro da mobilização agora foi deslocado para a Câmara dos Deputados, embora mobilizações em torno do tema deverão ser realizadas em vários estados brasileiros. Nesta sexta-feira (5), por exemplo, ainda segundo o senador, haverá uma grande manifestação na cidade de Santos, onde todas as atividades públicas serão encerradas por um prazo de duas horas. A manifestação ocorrerá em frente à prefeitura do município.
Na vigília, o senador Paim informou ainda que o deputado Pepe Vargas (PT-RS) deve defender o fim do fator previdenciário. Ele é relator da Matéria na Comissão de Finanças e Tributação (CFT) e no plenário da Câmara.

Os discursos

Fizeram discursos ou apartes durante a vigília os senadores Rosalba Ciarlini (DEM-RN), Garibaldi Alves Filho, Mário Couto (PSDB-PA), Paulo Paim, Papaléo Paes (PSDB-AP), Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC), Romeu Tuma (PTB-SP), Valter Pereira (PMDB-MS), Cristovam Buarque (PDT-DF), Mão Santa (PMDB-PI), José Nery (PSOL-PA), Sérgio Zambiasi (PTB-RS), Jefferson Praia (PDT-AM), Raimundo Colombo (DEM-SC), Wellington Salgado (PMDB-MG) e Pedro Simon (PMDB-RS).”

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