
Começo este artigo na companhia do Padre Antonio Vieira, valendo-me do seu Sermão da Sexagésima: “Diz Cristo que a palavra de Deus frutifica cento por um, e já eu me contentara com que frutificasse um por cento”. O pregador explica que, “se em cada cem sermões se convertera e emendara um homem, já o mundo fora santo”. Então pensei que, se com cada cem textos jornalísticos se convertera um homem (ou mulher), já o Brasil, se não fora santo, fora todo cidadão. Foi quando me deparei com A Catequese, do Cardeal Arcebispo de Salvador, Dom Geraldo M. Agnelo, neste mesmo espaço de A Tarde, edição de 31/8/2008, mensagem que certamente frutificou. Uma reflexão sobre a missão do catequista, com a advertência de que “nenhuma comunidade pode prescindir, além do pároco, primeiro catequista, também de outros catequistas”.
O fruto
O fruto da catequese, afirma o Cardeal, é “produzir conversão e seguimento”. Dispensando, a partir de agora, a ajuda do Padre Antonio Vieira e de Dom Geraldo, vou tentar andar com as minhas próprias pernas, depois de ambos me terem indicado o rumo da caminhada. Na grande paróquia da imprensa, somos todos, como profissionais do jornalismo, os catequistas encarregados de produzir leitores e cidadania, com a missão de apontar problemas e cobrar (e até sugerir) soluções em benefício da sociedade em geral. Uma missão que, se frutificar um por cento, será de resultado satisfatório.
O jornal
Adaptado às novas tecnologias digitais e qualificado o seu conteúdo, o jornal, com base em pautas que aliem criatividade e sintonia com o interesse público, pode não apenas cumprir o seu papel como instância das reivindicações populares. Pode também contribuir para o fortalecimento do Legislativo e do Judiciário e para o conseqüente equilíbrio de poderes, essencial para o regime democrático, em fase de quase avassaladora hegemonia do Executivo. Isso num jogo autoritário em que se conjugam, por exemplo, as medidas provisórias que atravancam o Congresso Nacional e a arapongagem que busca intimidar o Supremo Tribunal Federal.
No caminho
A Tarde está neste caminho de adaptação e qualificação, sem desmerecer as fases anteriores e somatórias que tem atravessado, desde a sua fundação, em 15 de outubro de 1912, por Ernesto Simões Filho, na continuidade de um processo de aprimoramento editorial, sem egoísticos “nunca antes na história”. É sinal positivo para o futuro do jornal impresso. E motivo de regozijo e de esperança para a Bahia, sobretudo experimentado pelas populações de regiões, como a de Paulo Afonso, ainda marcada pela desigualdade de tratamento, apesar de sede do complexo energético da Chesf.
Em termos de atraso e abandono, o que acontece do lado baiano não é diferente do que acontece do lado de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, nessa área de influência das usinas de Itaparica, Paulo Afonso e Xingó. O figurino de solução foi traçado no Protocolo de Cooperação firmado, em novembro de 1996, entre a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco e o Banco do Nordeste. O objetivo da parceria foi o “fortalecimento e modernização da agropecuária, da pesca, do turismo, além das micros, pequenas e médias industrias”. Foram contemplados municípios dos quatro estados. Este protocolo pode ter sua institucionalização ampliada para Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento, abrangendo os pólos de Paulo Afonso (BA), Petrolândia (PE), Piranhas (AL) e Canindé do São Francisco (SE).
A iniciativa
Basta fazer corresponder a RIDE à faixa territorial abrangida pelo protocolo, através de Lei Complementar, no espírito da Constituição Federal. Esta iniciativa deve caber principalmente aos governadores Jaques Wagner, Eduardo Campos,Teotônio Vilela e Marcelo Déda. Lamentavelmente, os prefeitos deste recanto do semi-árido nordestino estão mais empenhados em demonstrar quem abraça com mais intimidade o presidente Lula e os respectivos governadores. Não sobra tempo para debater os problemas dos seus municípios e reivindicar soluções.
Se o trabalho conjugado da imprensa baiana, pernambucana, alagoana e sergipana convencer os governos federal e estaduais a implantar a Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento, a catequese frutificou.
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