Aos familiares, representados pelas minhas filhas Alexandra, Rosana e Rafaela, pelo meu neto Victor e pelas minhas netas Luisa e Júlia (Bem-aventurados os avós) e aos amigos e amigas, os mesmos votos e mais a gratidão pelas alegrias que me dão e enchem minha vida de passado, presente e futuro.
Jesus, se não for um milagre divino é um milagre humano. Ou os dois milagres.
Em nome da Integração em dimensão planetária, este blog abre espaço para o trecho natalino do Evangelho de Lucas, capítulo 2.
José e Maria tinham viajado para Belém por conta de um recenseamento decretado por César Augusto. Ela estava grávida e de repente chegou a hora do parto: “Ela deu à luz seu primogênito, envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, pois não haviam conseguido lugar nas pousadas. Pastores estavam por ali nos campos (...). O anjo do Senhor lhe apareceu e (...) eles ficaram com muito medo. Mas o anjo lhe disse: Não tenham medo, pois eu lhes anuncio uma grande alegria (...). Um salvador, que é Cristo Senhor, nasceu para vocês hoje na cidade de Davi. Isso será um sinal para vocês: encontrarão um recém-nascido enrrolado em panos e deitado numa manjedoura. Eles foram apressados e encontraram Maria, José e o recém-nascido na manjedoura”.
E, a partir do que aconteceu nessa manjedoura, o mundo ficou dividido no Antes e Depois de Cristo.
50 anos depois
Há exatamente 50 anos vivi o Natal, como representante da UNE, em meio a estudantes das diversas partes do mundo, numa montanha da Tchecoslováquia, todos convidados pela UIE, então presidida pelo líder estudantil Jiri Pelikan, que se destacaria como político até a Primavera de Praga. Tendo sido ministro da Comunicação de Dubcek, teve de fugir dos invasores soviéticos, exilando-se na Itália. Veio a representar o PSI (Partido Socialista Italiano) no Parlamento Europeu e faleceu em junho de 1999. Essa lembrança de dez lustros serve de homenagem ao amigo Pelikan e a todos os demais companheiros com os quais experimentamos na prática o sentimento da humanidade.
Soneto de Natal
Machado de Assis

Vinicius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrela a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte -
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.
Compras de Natal
Cecília Meireles

As lojas querem ser diferentes, fugir à realidade do ano inteiro: enfeitam-se com fitas e flores, neve de algodão de vidro, fios de ouro e prata, cetins, luzes, todas as coisas que possam representar beleza e excelência.
Tudo isso para celebrar um Meninozinho envolto em pobres panos, deitado numas palhas, há cerca de dois mil anos, num abrigo de animais, em Belém.
Todos vamos comprar presentes para os amigos e parentes, grandes e pequenos, e gastaremos, nessa dedicação sublime, até o último centavo, o que hoje em dia quer dizer a última nota de cem cruzeiros, pois, na loucura do regozijo unânime, nem um prendedor de roupa na corda pode custar menos do que isso.
Grandes e pequenos, parentes e amigos são todos de gosto bizarro e extremamente suscetíveis. Também eles conhecem todas as lojas e seus preços — e, nestes dias, a arte de comprar se reveste de exigências particularmente difíceis. Não poderemos adquirir a primeira coisa que se ofereça à nossa vista: seria uma vulgaridade. Teremos de descobrir o imprevisto, o incognoscível, o transcendente. Não devemos também oferecer nada de essencialmente necessário ou útil, pois a graça destes presentes parece consistir na sua desnecessidade e inutilidade. Ninguém oferecerá, por exemplo, um quilo (ou mesmo um saco) de arroz ou feijão para a insidiosa fome que se alastra por estes nossos campos de batalha; ninguém ousará comprar uma boa caixa de sabonetes desodorantes para o suor da testa com que — especialmente neste verão — teremos de conquistar o pão de cada dia. Não: presente é presente, isto é, um objeto extremamente raro e caro, que não sirva a bem dizer para coisa alguma.
Por isso é que os lojistas, num louvável esforço de imaginação, organizam suas sugestões para os compradores, valendo-se de recursos que são a própria imagem da ilusão. Numa grande caixa de plástico transparente (que não serve para nada), repleta de fitas de papel celofane (que para nada servem), coloca-se um sabonete em forma de flor (que nem se possa guardar como flor nem usar como sabonete), e cobra-se pelo adorável conjunto o preço de uma cesta de rosas. Todos ficamos extremamente felizes!
São as cestinhas forradas de seda, as caixas transparentes os estojos, os papéis de embrulho com desenhos inesperados, os barbantes, atilhos, fitas, o que na verdade oferecemos aos parentes e amigos. Pagamos por essa graça delicada da ilusão. E logo tudo se esvai, por entre sorrisos e alegrias. Durável — apenas o Meninozinho nas suas palhas, a olhar para este mundo.
Texto extraído do livro "Quatro Vozes", Editora Record - Rio de Janeiro, 1998, pág. 80.
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