terça-feira, 10 de novembro de 2009

A democracia com
agenda no Sertão




O descaso dos governos da Bahia com as regiões fora do eixo Salvador/Recôncavo é uma antiga distorção, ainda não de todo corrigida, comprovada até pelo desinteresse em resolver as questões de limites com Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Goiás, Espírito Santo e Minas Gerais. Bem ao contrário do Brasil que pôs fim às suas pendências de fronteiras com países vizinhos. O médico e escritor Braz do Amaral chamou a atenção para este contraste no artigo “Sobre os limites da Bahia e a Carta Geográfica”, inserido no livro "Recordações Históricas", publicado em Portugal, na cidade do Porto, em 1921, e reeditado em 2007 pela Assembléia Legislativa e Academia de Letras da Bahia.


Por essa displicência e pela sua dimensão continental, a Bahia tem enfrentado surtos de investidas separatistas, contra os quais sempre se posicionou A Tarde, na linha de baianidade do seu fundador Simões Filho, continuada pelos herdeiros. Mas dentre as demonstrações de que a posição do jornal não se restringe à defesa da integridade territorial, sobressai a criação de sucursais e representações para a cobertura das diversas regiões do estado, no sentido também da integração, para que não sejam tratados como baianos de segunda classe os residentes no interior mais distante.

Esta conduta editorial por uma Bahia sem desigualdade, unificada pelo mesmo padrão de tratamento administrativo, dinâmica como é da própria natureza do jornalismo, nunca deixou de ampliar-se e de adaptar-se às novas circunstâncias da realidade mutante dos conjuntos homogêneos de municípios. E de verticalizar-se a partir do respectivo pólo e dentro de cada um deles. A microrregião de Paulo Afonso não ficou à margem dessa preocupação, que deve ser compartilhada pelo poder público e pelo setor privado, observadas suas respectivas especificidades de atuação.

Nesta parte do Nordeste baiano, urge o cuidado especial de criar estímulos de interatividade com a mídia em suas populações ainda desintegradas do viver coletivo mínimo necessário a uma sociedade. O que pode começar nas salas de aulas feitas laboratórios de cidadania, operados por professores e pelos alunos habituados à leitura de jornais e revistas – e de livros. E com a divulgação, de caráter multiplicador, dos resultados, que se manifestarão nos efeitos educativos para exercício do direito de voto pelo eleitor mais instruído e conseqüente aperfeiçoamento do sistema de representatividade popular, base insubstituível do regime democrático.

O Nordeste baiano sempre discriminado, excluído dos Probahias da vida, exibe o triângulo de atraso formado pelos municípios de Coronel João Sá, Pedro Alexandre (este um caso à parte) e Santa Brígida, que está a merecer estudo multidisciplinar em caráter emergencial, para responder a várias perguntas, a primeira das quais é sobre a conjunção de abandono oficial com submissão eleitoral. Equipe de reportagem poderá comprovar isso em trabalho de campo pautado para identificar seus problemas e soluções, a partir de um debate que envolva jovens lideranças descobertas para a liderança comunitária e o associativismo. Um curso a céu aberto para o aprendizado da democracia como uma prática do cotidiano e não palavra vazia de sentido para enfeite dos discursos ocos de politiqueiros.

Caminho mais curto para a emancipação do eleitorado refém de um sistema, tipo samba de crioulo doido de uma nota só, a do situacionismo compulsório, que mudou a cara mas ainda não mudou de métodos sustentados pelo clientelismo assistencialista, em marcha batida para a consolidação de sua matriz coronelística de dominação . Neste espaço de três ângulos e de três lados e de uma mesma submissão, deverá fazer-se sentir outra libertação, quando for ultrapassado o circulo da dependência dos estados vizinhos, sobretudo Sergipe e Alagoas, a ponto de as melhores unidades de saúde do lado baiano serem as ambulâncias que conduzem doentes para os hospitais de Aracaju ou Arapiraca (AL) e parturientes para as maternidades de Carira (SE) e Itabaiana (SE). Toda uma agenda para a democracia a ser praticada no Sertão que iluminou e industrializou o litoral do Nordeste com as usinas da Chesf mas não se desenvolveu (Este artigo sairá na página Opinião do jornal A Tarde).

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