O bioma caatinga
Há 50 anos, fiz a minha primeira reportagem. Foi sobre a seca. Numa viagem de dez léguas, a cavalo. Desde Santa Brígida a Serra Negra, hoje Pedro Alexandre. A minha estrada de Damasco. Nasci dois anos após a grande seca de 1932 e tive uma infância embalada pela conversa dos mais velhos sobre falta de chuva e seus efeitos. Mas foi nesse percurso pela desolação da caatinga que o Sertão se revelou para mim por inteiro. Uma revelação transformada em compromisso, cumprido à risca no meu trajeto de jornalista.
O mesmo compromisso que me conduz a Santa Brígida, meio século depois, neste 6 de março, para saber o que os prefeitos têm a dizer sobre o Sertão Baiano, no encontro em que vão empossar nova diretoria de sua associação (APSB). Sobre a discriminação que sofrem os seus municípios, por se localizarem no Nordeste e, pior ainda, no Nordeste da Bahia. Discriminação em dose dupla. E sobre o que vão fazer para mudar esse roteiro de humilhações, pontilhado de falsas promessas, no cenário de escancarado assistencialismo eleiçoeiro. Que tudo disfarça e dá popularidade (na periferia).
Humilhações refletidas no abandono das estradas, com seu exemplo aberrante na BR.235. No tratamento dispensado aos seus rios, a começar pelo Vaza-Barris, parcialmente consertado por um empreendimento há tanto tempo esperado, e vital para a sua perenização, a barragem do Gasparino, a ser construída, entre os municípios de Coronel João Sá e Sítio do Quinto, num meio pedido de desculpa pela transposição do Rio São Francisco para o Nordeste Setentrional. Na falta de estímulos para a instalação de indústrias e até na hostilidade manifestada em episódios como o da fábrica de alumínio e da cervejaria Schincariol. Na deformação e desmonte do Programa/Instituto Xingó, com suas áreas temáticas desativadas e portanto sem condições de funcionar como matriz tecnológica de sua área original de atuação, envolvendo 29 municípios da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, entre as usinas de Itaparica, Paulo Afonso e Xingó (Mas atuando, através de convênios, no Amapá!). Na inexistência de uma rede hospitalar, em amplo espaço geográfico sem uma UTI; tudo agravado pelo descarte do Hospital Nair Alves de Souza. Num aparelho judiciário que consegue a façanha de ficar abaixo do sofrível padrão estadual.
Tudo isso demonstra, à luz do que ocorreu no passado e continua a ocorrer no presente, que se mudar para partido da base aliada, como pensa boa parte de prefeitos, não resolve por si só. O chefe de executivo municipal precisa ter espinha dorsal e eficiência administrativa. E liderança, embasada na cidadania, capaz de mobilizar a comunidade, sem as restrições do círculo de giz traçado pelo imediatismo caça-votos. E de impor, pela força do coletivo democrático, as mudanças. Pior mesmo do que ser Nordeste é ser Nordeste da Bahia.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
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