
A absolvição de alguns pecados está reservada, na Igreja Católica, à Sé apostólica, ao bispo da diocese ou aos presbíteros autorizados. Mas qualquer sacerdote pode absolver de pecado e excomunhão quem se achar em perigo de morte. Não sendo papa, bispo, presbítero ou sacerdote, o presidente Lula pode acrescentar aos seus trunfos da série Nunca dantes na história deste país o de recordista da absolvição de políticos pecadores, estejam ou não em perigo de morte.
E até superou-se ao introduzir a prática das absolvições coletivas, que beneficiaram, de uma só vez, os 300 picaretas do Congresso, contados por ele próprio, e para os quais, em vez das labaredas do inferno, ofereceu, claro que não de mãos beijadas, um remanso premiado, o paraíso das delícias de sua base aliada, com ZPEs em ilhas de mensaleiros, sanguessugas, jalecos brancos, dentre outras.
Pródigo ao extremo, em mais uma de suas visitas a Pernambuco, que tem enchido de orgulho os leões do norte, Lula não se limitou ao gesto temerário de elogiar o conterrâneo Severino Cavalcanti. Foi mais longe. Ofereceu a medalha de pacificador, vejam só, a Hugo Chávez, o presidente da Venezuela, que quase provocou uma guerra no continente, aproveitando-se do conflito entre a Colômbia e o Equador, e é um notório aliado das Farc, ajuntamento de narcotraficantes que já acolheu Fernandinho Beira-Mar.
Os elogios ao líder do baixo clero incluíram acusação delirante às “elites paulista e paranaense”, responsabilizadas, junto com “as oposições”, pelos infortúnios somados de Severino Cavalcanti: a perda do cargo de presidente da Câmara dos Deputados e do mandato parlamentar. Isto, na verdade, por conta do mensalinho, variante dos mensalões. Ou seja, em vez de pagar gorjeta aos garçons do restaurante da CF, exigiu gorjeta (propina), do patrão deles, por quem foi desmascarado. Por ultimo, em Alagoas, foi a vez de ter avalizada por Lula a conduta do ex-presidente do Senado, Renan Calheiros.
Seria fastidioso enumerar, uma por uma, as absolvições, entremeadas do monocórdio “eu não sabia”, dispensadas por Lula a integrantes do seu governo e dos aliados em geral flagrados em atos de corrupção. No episódio dos “cartões corporativos”, sobressaiu-se logo a secretária da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, como “líder em gastos”, envolvendo compras em free shops, aluguel de carros e restaurantes. Aquela mesma para quem “preconceito de negro contra branco pode”. Pode, leitor!
Dossiê saiu do ventre das absolvições
E foi nesse ambiente de absolvições a mancheias que se gerou o chamado dossiê da Casa Civil sobre os gastos do governo Fernando Henrique Cardoso com cartões corporativos e contas tipo B, a que se seguiram estratégias de despiste, tal como revelaram as jornalistas do Estadão Christiane Samarco e Vera Rosa. A operação dossiê, segundo elas, saiu de pelo menos duas reuniões realizadas no Planalto, sob comando da ministra Dilma.
A pergunta que a nação se faz é a seguinte: qual o argumento que a chamada base aliada usará para se negar a aprovar, na CPI dos Cartões Corporativos, os procedimentos necessários ao levantamento dos gastos do governo Lula, depois que foi descoberta a mobilização de toda a Esplanada dos Ministérios para a coleta de informações sobre a administração anterior. Mas não é preciso o dom da advinhação para atinar-se com a provável saída: Foi adotada a regra de tratar como reservados os gastos dos cartões com o presidente Lula e seus familiares, o mesmo tratamento dispensado às Forças Armadas, ao Ministério das Relações Exteriores e à Abin (Agencia Brasileira de Inteligência). Eles podem ser acessados por órgãos de controle, mas não estão disponíveis para o público.
A pedagogia da permissividade
Em matéria de esquisitice, pensava que o município de Pedro Alexandre era imbatível. Agora, diante dessa trapalhada toda em Brasília, fiquei em dúvida. Pedro Alexandre é uma miniatura do Planalto ou o Planalto é a projeção de Pedro Alexandre e similares? Encerro com outra pergunta, a ser também respondida em outro artigo: que resultado se pode esperar das eleições deste ano, sob o manto protetor de absolvições didaticamente justificadoras da corrupção triunfante nos três níveis da Federação?
(Artigo de Clementino Heitor de Carvalho, publicado em A Tarde, Opinião, edição de 11/4/2008)
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