segunda-feira, 17 de março de 2008

Presidente da Eletrobrás vai reinvestir lucros da Chesf no Nordeste



A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) completou 60 anos de funcionamento no último dia 15 mas a comemoração, em meio a expectativas e interrogações, será hoje (terça), a partir das 8h30, na sua sede, em Recife, no Bongi, com a presença do novo presidente da Eletrobrás, o engenheiro José Antônio Muniz Lopes. Ex-presidente da Chesf, ele deverá confirmar a defesa de uma proposta que já suscita polêmica: reinvestimento dos lucros da empresa na região, em vez de sua devolução ao Tesouro Nacional para o pagamento de juros. Uma posição que assumiu quando presidente da Chesf, mas foi derrotado, e agora reassume, na presidência da holding do setor elétrico, dando a volta por cima.


Em declarações à imprensa, Muniz Lopes afirmou que “as empresas coligadas (como a Chesf) precisam funcionar como agentes de desenvolvimento regional, sempre respeitando o direito dos acionistas”. Foi o que fez na Amazônia, quando dirigiu, a Eletronorte. Num desabafo, ele disse que, “no tempo da Chesf, não pude, mas vamos buscar outros caminhos”. E frisou: “Temos que reinvestir no Nordeste os seus lucros. Ano a ano, veja-se o volume de investimentos que a Chesf faz e o volume de remessas que vão para o tesouro. São recursos retirados do Nordeste”.


Repercussão em Paulo Afonso


As expectativas geradas pelas afirmações do presidente da Eletrobrás, transformada recentemente, por medida provisória, para ser “uma Petrobrás do setor elétrico”, já repercutiram em Paulo Afonso. A representação da Adesg (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra) começou a articular, com o apoio da sociedade civil, o I Fórum de Desenvolvimento Regional Alves de Souza.


O fórum homenageará a memória do primeiro presidente da Chesf, Alves de Souza. Tido como um carioca nordestino, ele se bateu, sem sucesso, pela implantação de indústrias na “região próxima a Paulo Afonso”. Entre os argumentos, o de que “a energia em Paulo Afonso e em sua circunvizinhança será de preço muito baixo, visto como não estará incluído nesse preço a remuneração do vultoso capital representado por linhas de transmissão extensas e de voltagem elevada”.


A proposta de desenvolvimento de Alves de Souza, com as devidas atualizações, deverá ser retomada agora, favorecida pela nova política da Eletrobrás na gestão Muniz Lopes, entrosado com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. O reinvestimento dos lucros da Chesf poderá começar pela Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Pólo Paulo Afonso (BA), Petrolândia (PE), Piranhas (AL) e Canindé do São Francisco (SE), a ser criada por Lei Complementar, tendo como roteiro de prioridades nas aplicações de recursos o seu Projeto Especial de Desenvolvimento. Tal como aconteceu, no Médio São Francisco, com Juazeiro e Petrolina e os municípios de suas respectivas áreas de influência.


Quem vai mandar na Chesf ?


O PMDB foi o responsável pela indicação do nome de Edison Lobão para o Ministério de Minas e Energia e também do nome de Muniz Lopes para a presidência da Eletrobrás. Em Furnas, a presidência ficou com o peemedebista Luiz Paulo Conde, a quem foi prometida uma futura diretoria composta de correligionários. Como a Chesf é cada vez mais uma empresa pernambucana, surge o problema: o PMDB faz dura oposição ao governo federal, o que já inviabiliza indicações por parte do senador Jarbas Vasconcelos. Impõe-se então a pergunta: lideranças de quais estados farão as indicações. Isso vale desde o Maranhão até à Bahia. E aí as apostas variam desde gente ligada ao grupo de Lobão até o PMDB cearense de Eunício Oliveira; de Geddel Vieira Lima, na Bahia, ao líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), também responsável pela indicação de Edison Lobão. Sem esquecer um complicador: o governador Eduardo Campos, de Pernambuco, foi quem indicou o atual presidente Dilton da Conti Oliveira. Com o prestígio que conta no governo Lula, e se tratando de empresa com sede em Recife, ele não vai certamente ficar de braços cruzados. Ou, como dizem os colunistas, “apenas olhando essa festa peemedebista no seu estado”.


Por sinal, a Chesf se encontra numa inédita fase de indefinição, com cargos vagos na diretoria, a começar pela Administrativa, neste caso há mais de um ano. Em 2007, o PR do vice-presidente José Alencar indicou o ex-governador do Ceará, Lúcio Alcântara, para a presidência. Os brios pernambucanos se acenderam e o governador Eduardo Campos se valeu do seu correligionário Ciro Gomes, ex-governador do Ceará, para vetar a indicação.

Nenhum comentário: