sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A Marcha da Coluna Amado do Pelourinho a Paulo Afonso


Era para começar este comentário com depoimento sobre o hábito de leitura que adquiri freqüentando, em Aracaju, a Biblioteca Pública de Sergipe, na Praça Fausto Cardoso. Mas vou abrir a porta do salão a céu aberto em que se debate a cultura na Bahia com outra chave, recebida de Gilberto Freyre, Jorge Amado e Castro Alves.
Ainda sem a ajuda dos meus guias, percebo que a discussão gira mais em torno do fazer cultural, ou da distribuição dos recursos para financiar essa atividade, pelo modelo tido como desconcentrado, como prefere o Governo do Estado, do que em torno do consumo ou destino da produção. Preocupa mais a oferta financiada, o “tudo por um dinheiro mais acessível em 2008”, conforme título sugestivo de texto de Cecí Alves, do que a demanda do que venha a ser ofertado, principalmente no interior, ainda sem consumidores, em escala expressiva, de livros, espetáculos teatrais, e outras modalidades de arte, ou mesmo de jornais e revistas.
E aqui convoco o primeiro guia, com as sugestões respectivas, para gerar a clientela que responda à produção cultural em toda a sua diversidade. Estão nas “Palavras às Professoras Primárias de Pernambuco em 1956”, publicadas em “Rurbanização: O Que É?”. E indicam a necessidade de criação de centros transmunicipais de cultura intelectual e artística e de recreação, tarefa facilitada, mais de 50 anos depois, pela internet. Por que não um centro desses em Paulo Afonso, abrangendo Glória, Rodelas, Abaré, Macururé e Chorrochó; e outro em Jeremoabo, com Santa Brígida, Pedro Alexandre, Coronel João Sá e Sítio do Quinto, e ambos interligados quando necessário?
Com seu jeito pernambucano e universal de sociólogo também do cotidiano, Gilberto Freyre defendeu o direito das populações rurbanas a contato direto com celebridades dos diversos ramos das letras e artes. Presenças, patrocinadas por parcerias públicas, e apoio, quando possível, da iniciativa privada, que sirvam de estímulo, a jovens e adultos, para a criação e fruição de produtos culturais.
O mestre de Apipucos sempre insistiu, como teórico do equilíbrio entre os valores urbanos e rurais, que a gente do campo não é resistente à cultura. Pois bem, assim como a Coluna Miguel Costa-Prestes, ou Coluna Prestes como ficou popularmente conhecida, percorreu o interior do país pregando reformas políticas e sociais, urge que se forme a Coluna Gilberto Freyre-Jorge Amado, ou, para abreviar, Coluna Amado, para varar o interior da Bahia, operando a descentralização da cultura, também com integração das diversas regiões do Estado pelo somatório inclusivo dos seus territórios.
Se a marcha da Coluna Prestes preparou a Revolução de 1930, a marcha da Coluna Amado, espalhando cultura pelo interior, vai preparar outra revolução, encarnada na Bahia Total, em traje citadino ou com chapéu de couro e gibão, comendo acarajé, pizza ou carne de bode no Porto da Barra ou no Raso da Catarina. Afinada com o Brasil da pós-modernidade, e os seus intelectuais e artistas pisando o chão firme que lhe ofereça o público espontâneo, urbano e rural, solidário com suas obras, e dispensando mecenatos.
Sem consultar os guias, arrisco-me a antecipar que o Dia D da Coluna Amado será em março de 2008, quando a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) completa 60 anos de existência. Partida, do seu quartel-general, na Fundação Jorge Amado, no Pelourinho. Destino, Paulo Afonso. Voluntários, os livros do filho de Ferradas, sob o comando da Guarnição de Seara Vermelha, e tendo como breviário o ABC de Castro Alves. Por munição, os versos do Poeta dos Escravos. Nos alforjes, para o de comer na caminhada, suprimentos de generosidade, planta cultivada na seara do coração de Jorge Amado, e safra perene que superou todas as previsões.
Para recreação nos pontos de parada, poderão ser exibidos filmes de cineastas baianos. Programadas sessões especiais de Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber Rocha, no Quilômetro Quarenta, povoado de Santa Brígida, terra do beato Pedro Batista. E de Coronel Delmiro Gouveia; direção: Geraldo Sarno; argumento e roteiro: Geraldo Sarno e Orlando Senna. Dentre os eventos em Paulo Afonso, na Cidade Chesf, encenações teatrais sobre a Cachoeira de Paulo Afonso, da obra de Castro Alves, diante do seu Monumento.

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