quinta-feira, 26 de julho de 2007

Cachoeira de Paulo Afonso pode ser atração mundial

Paulo Afonso (Do correspon­dente Clementino Heitor de Car­valho) - O interior do Nordeste bra­sileiro poderá se tornar um ponto turístico internacional e a Cachoeira de Paulo Afonso, como forte chamariz, deverá ser um dos atrativos para via­bilizar essa potencialidade se a Chesf estabelecer um calendário anual para a sua abertura programada. Esta iniciativa vem sendo crescen­temente reivindicada pela comunida­de regional e, defendida, entre ou­tros, pelo secretário de Planejamento da Prefeitura de Maceió, Alejandro Luiz Pereira da Silva, 52, arquiteto com especialização em desenvolvi­mento urbano e regional.

A Cachoeira de Paulo Afonso valo­rizará todo o conjunto dos lagos artifi­ciais em torno das usinas, o canyon do Rio São Francisco, que passou a ser navegável após a Barragem do Xingó, e também o Raso da Catarina, espaço privilegiado do semi-árido tropical, ecossistema único no mundo. Área ainda pouco explorada cientificamen­te, é ambiente da ararinha-azul, espé­cie em extinção no mundo.

O Nordeste conta com outros poten­ciais destinos, capazes de motivar via­gens de longo curso, pelos atributos de diferenciação e de atratividade, em es­cala mundial, a exemplo da Chapada Diamantina, do Planalto da Borbore­ma, da Chapada do Araripe, da Serra do Ibiapaba, do Vale do Parnaíba.

Destacam-se ainda a Serra da Ca­pivara, em São Raimundo Nonato (PI), onde está o Museu do Homem Americano, e sítios arqueológicos como os de Sete Cidades (PI) e Pe­dra do Ingá (PB). Mas é a Cachoei­ra de Paulo Afonso que possui, se­gundo reconhecem os especialistas, o atributo de tocar o lado universal da alma humana, podendo atingir com seu apelo profundo o grande mercado turístico.

Trata-se do atavismo provocado pelas grandes manifestações das for­ças da natureza, responsável pelos mais de um milhão de visitantes/ano das Cataratas do Iguaçu, contabiliza­dos só do lado brasileiro.

Depende do homem

Acontece que a Cachoeira de Pau­lo Afonso, como rara incidência des­se tipo de formação natural, está en­tre as cinco maiores do mundo, con­siderando-se o volume de água e a­ altura das quedas. E o que é mais im­portante: ao contrário das Sete Que­das, submersa pelo reservatório de Itaipu, no Rio Paraná, ainda pode ser vista na sua exuberância original, de­pendendo, para isso, somente da vontade do homem.

O leito natural do rio, no trecho das quedas da cachoeira, lembra Ale­jandro Luiz, “está intacto como Deus o fez”. Basta só se querer, para se po­der abrir comportas e a água voltar a fluir no seu leito de sempre e formar as quedas-d´água.

O nosso entrevistado não esconde o entusiasmo, ao afirmar: “Quem viu sabe que, quando isso acontece, se assiste ao maior espetáculo da terra. Ninguém mais no planeta é capaz de proporcionar feitos similares com es­sa magnitude de forças da natureza. E isso aumenta ainda mais o seu atributo de fator diferencial, pois o espe­táculo das águas, ao se formar as grandes quedas, é inédito, diferen­ciando Paulo Afonso de Niagara Falls, de Victória Falls ou de Iguaçu”.

“Nestas últimas - acrescenta Ale­jandro Luiz -, o espectador tem ape­nas um prazer contemplativo com o fluxo contínuo das águas que despen­cam. Em Paulo Afonso, a partir da abertura das comportas, pode-se ver a força da ação da natureza, presen­ciando uma verdadeira avalanche de ao menos 3.000 m3/s de água sobre os leitos rochosos, até a formação das várias grandes quedas-d´água e do magnífico Véu de Noiva e passar en­tão a contemplá-las”.

É suficiente complementar essa dá­diva da natureza com a criação de produtos turísticos adequados a reali­zar um marketing competente. Afinal, Paulo Afonso se situa, para os viajan­tes europeus e norte-americanos, no mínimo a três horas de vôo a menos em relação ao Sul do país. E o valor da Cachoeira de Paulo Afonso como atrativo de fluxos turísticos pode ser ampliado pelo aproveitamento das outras potencialidades já referidas.

Parques temáticos

Alejandro Luiz imagina criar-se a céu aberto, junto aos sítios arqueoló­gicos e paleontológicos abertos à visi­tação, um ou vários museus de histó­ria natural, em ambientes de parques temático-científicos, com a montagem de fósseis da mega fauna da região.

O entrevistado indaga então em que outro país se reuniriam as condições de se observar esses fósseis em seu ambiente natural? Quantas pessoas, entre cientistas, estudantes e observa­dores de pássaros, poderiam se inscre­ver num curso de férias sobre a “Eco­logia do Raso da Catarina e a Arari­nha- Azul”? E ele mesmo responde: “Quem já teve a curiosidade de pes­quisar o número de instituições que agregam observadores de pássaros no mundo e o valor que uma raridade co­mo esta tem para eles, sabe a grandeza deste segmento de mercado”.

Fica demonstrada a existência, no interior nordestino, de matérias-primas de expressivo potencial para a criação de produtos turísticos destinados ao mercado nacional e internacional e ainda para segmentos específicos des­ses mercados. Porém, sem dúvida alguma, a Cachoeira de Paulo Afonso exibe um potencial extraordinário, ca­paz de capitanear, “em grande estilo e com resultados a curto e médio prazos, o surgimento de um processo de de­senvolvimento do turismo nesta por­ção territorial do Nordeste brasileiro”.

A região onde se situa, hoje caracte­rizada pelos três grandes lagos das hi­drelétricas e os trechos à jusante e montante destes do Rio São Francisco, reúne a condição básica de aprazibili­dade ambiental. Grandes volumes de água num ambiente de clima desértico, numa das áreas mais ensolaradas do mundo. Paraíso para o exercício de to­da a sorte de esportes náuticos e para o lazer. E isso ainda acompanhado de uma diversificada e rara beleza cênica, com destaque para o canyon do rio, tanto no reservatório de Xingó como à jusante, até a cidade de Pão de Açúcar.

Vegetação variada

As atrações desse roteiro turístico desenhado por Alejandro Luiz não param por aí. A menos de 30 km ao norte dos lagos surgem as serras lo­cais com microclimas de temperatu­ras amenas, altos índices pluviomé­tricos e vegetação diferenciada, ver­dadeiros oásis no meio da caatinga esturricada. Sob medida para a hos­pedagem de visitantes desacostuma­dos com o calor escaldante do sertão.

A cidade de Água Branca (AL) é uma pequena jóia colonial incrustada neste contra forte da Borborema, si­tuada a somente 30 km de Paulo Afonso, onde de seus promontórios se vislumbra toda a ampliação da pai­sagem dos lagos, quem sabe plata­forma ideal para vôos de asa-delta, arrisca Alejandro Luiz. Logo ao sul de Paulo Afonso, encontra-se a reser­va ecológica do Raso da Catarina, on­de desponta, no meio da riqueza de sua formação, um monumental can­yon seco, vestígio de grande rio pré-­histórico, local para se contemplar as belas e raras formações rochosas, que lembram Vila Velha, no Paraná.

Pode-se também dizer que essas formações caracterizam a paisagem da região, valendo a pena se ver também aquelas correntes em Ma­lhada Grande, povoado que vai se transformando num centro de arte­sanato, e em Riacho do Sal, e prin­cipalmente as situadas no braço do Riacho Talhado, a que se tem aces­so pelo lago de Xingó.

Incluem-se nessa oferta, junta­mente com as expressões culturais das várias tribos indígenas existen­tes, os vários sítios arqueológicos aqui existentes, que podem despertar o interesse dos visitantes com o nos­so homem pré-colombiano.

(Texto publicado em 1999 no Jornal A Tarde)

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