Paulo Afonso (Do correspondente Clementino Heitor de Carvalho) - O interior do Nordeste brasileiro poderá se tornar um ponto turístico internacional e a Cachoeira de Paulo Afonso, como forte chamariz, deverá ser um dos atrativos para viabilizar essa potencialidade se a Chesf estabelecer um calendário anual para a sua abertura programada. Esta iniciativa vem sendo crescentemente reivindicada pela comunidade regional e, defendida, entre outros, pelo secretário de Planejamento da Prefeitura de Maceió, Alejandro Luiz Pereira da Silva, 52, arquiteto com especialização em desenvolvimento urbano e regional.
A Cachoeira de Paulo Afonso valorizará todo o conjunto dos lagos artificiais em torno das usinas, o canyon do Rio São Francisco, que passou a ser navegável após a Barragem do Xingó, e também o Raso da Catarina, espaço privilegiado do semi-árido tropical, ecossistema único no mundo. Área ainda pouco explorada cientificamente, é ambiente da ararinha-azul, espécie em extinção no mundo.
O Nordeste conta com outros potenciais destinos, capazes de motivar viagens de longo curso, pelos atributos de diferenciação e de atratividade, em escala mundial, a exemplo da Chapada Diamantina, do Planalto da Borborema, da Chapada do Araripe, da Serra do Ibiapaba, do Vale do Parnaíba.
Destacam-se ainda a Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato (PI), onde está o Museu do Homem Americano, e sítios arqueológicos como os de Sete Cidades (PI) e Pedra do Ingá (PB). Mas é a Cachoeira de Paulo Afonso que possui, segundo reconhecem os especialistas, o atributo de tocar o lado universal da alma humana, podendo atingir com seu apelo profundo o grande mercado turístico.
Trata-se do atavismo provocado pelas grandes manifestações das forças da natureza, responsável pelos mais de um milhão de visitantes/ano das Cataratas do Iguaçu, contabilizados só do lado brasileiro.
Depende do homem
Acontece que a Cachoeira de Paulo Afonso, como rara incidência desse tipo de formação natural, está entre as cinco maiores do mundo, considerando-se o volume de água e a altura das quedas. E o que é mais importante: ao contrário das Sete Quedas, submersa pelo reservatório de Itaipu, no Rio Paraná, ainda pode ser vista na sua exuberância original, dependendo, para isso, somente da vontade do homem.
O leito natural do rio, no trecho das quedas da cachoeira, lembra Alejandro Luiz, “está intacto como Deus o fez”. Basta só se querer, para se poder abrir comportas e a água voltar a fluir no seu leito de sempre e formar as quedas-d´água.
O nosso entrevistado não esconde o entusiasmo, ao afirmar: “Quem viu sabe que, quando isso acontece, se assiste ao maior espetáculo da terra. Ninguém mais no planeta é capaz de proporcionar feitos similares com essa magnitude de forças da natureza. E isso aumenta ainda mais o seu atributo de fator diferencial, pois o espetáculo das águas, ao se formar as grandes quedas, é inédito, diferenciando Paulo Afonso de Niagara Falls, de Victória Falls ou de Iguaçu”.
“Nestas últimas - acrescenta Alejandro Luiz -, o espectador tem apenas um prazer contemplativo com o fluxo contínuo das águas que despencam. Em Paulo Afonso, a partir da abertura das comportas, pode-se ver a força da ação da natureza, presenciando uma verdadeira avalanche de ao menos 3.000 m3/s de água sobre os leitos rochosos, até a formação das várias grandes quedas-d´água e do magnífico Véu de Noiva e passar então a contemplá-las”.
É suficiente complementar essa dádiva da natureza com a criação de produtos turísticos adequados a realizar um marketing competente. Afinal, Paulo Afonso se situa, para os viajantes europeus e norte-americanos, no mínimo a três horas de vôo a menos em relação ao Sul do país. E o valor da Cachoeira de Paulo Afonso como atrativo de fluxos turísticos pode ser ampliado pelo aproveitamento das outras potencialidades já referidas.
Parques temáticos

Alejandro Luiz imagina criar-se a céu aberto, junto aos sítios arqueológicos e paleontológicos abertos à visitação, um ou vários museus de história natural, em ambientes de parques temático-científicos, com a montagem de fósseis da mega fauna da região.
O entrevistado indaga então em que outro país se reuniriam as condições de se observar esses fósseis em seu ambiente natural? Quantas pessoas, entre cientistas, estudantes e observadores de pássaros, poderiam se inscrever num curso de férias sobre a “Ecologia do Raso da Catarina e a Ararinha- Azul”? E ele mesmo responde: “Quem já teve a curiosidade de pesquisar o número de instituições que agregam observadores de pássaros no mundo e o valor que uma raridade como esta tem para eles, sabe a grandeza deste segmento de mercado”.
Fica demonstrada a existência, no interior nordestino, de matérias-primas de expressivo potencial para a criação de produtos turísticos destinados ao mercado nacional e internacional e ainda para segmentos específicos desses mercados. Porém, sem dúvida alguma, a Cachoeira de Paulo Afonso exibe um potencial extraordinário, capaz de capitanear, “em grande estilo e com resultados a curto e médio prazos, o surgimento de um processo de desenvolvimento do turismo nesta porção territorial do Nordeste brasileiro”.
A região onde se situa, hoje caracterizada pelos três grandes lagos das hidrelétricas e os trechos à jusante e montante destes do Rio São Francisco, reúne a condição básica de aprazibilidade ambiental. Grandes volumes de água num ambiente de clima desértico, numa das áreas mais ensolaradas do mundo. Paraíso para o exercício de toda a sorte de esportes náuticos e para o lazer. E isso ainda acompanhado de uma diversificada e rara beleza cênica, com destaque para o canyon do rio, tanto no reservatório de Xingó como à jusante, até a cidade de Pão de Açúcar.
Vegetação variada
As atrações desse roteiro turístico desenhado por Alejandro Luiz não param por aí. A menos de 30 km ao norte dos lagos surgem as serras locais com microclimas de temperaturas amenas, altos índices pluviométricos e vegetação diferenciada, verdadeiros oásis no meio da caatinga esturricada. Sob medida para a hospedagem de visitantes desacostumados com o calor escaldante do sertão.
A cidade de Água Branca (AL) é uma pequena jóia colonial incrustada neste contra forte da Borborema, situada a somente 30 km de Paulo Afonso, onde de seus promontórios se vislumbra toda a ampliação da paisagem dos lagos, quem sabe plataforma ideal para vôos de asa-delta, arrisca Alejandro Luiz. Logo ao sul de Paulo Afonso, encontra-se a reserva ecológica do Raso da Catarina, onde desponta, no meio da riqueza de sua formação, um monumental canyon seco, vestígio de grande rio pré-histórico, local para se contemplar as belas e raras formações rochosas, que lembram Vila Velha, no Paraná.
Pode-se também dizer que essas formações caracterizam a paisagem da região, valendo a pena se ver também aquelas correntes em Malhada Grande, povoado que vai se transformando num centro de artesanato, e em Riacho do Sal, e principalmente as situadas no braço do Riacho Talhado, a que se tem acesso pelo lago de Xingó.
Incluem-se nessa oferta, juntamente com as expressões culturais das várias tribos indígenas existentes, os vários sítios arqueológicos aqui existentes, que podem despertar o interesse dos visitantes com o nosso homem pré-colombiano.
(Texto publicado em 1999 no Jornal A Tarde)
Nenhum comentário:
Postar um comentário