
Há muito tempo estou com uma pergunta, que são duas, na cabeça. Ambas sem resposta: o que Waldir tem de Lula? O que Lula tem de Waldir?
Como diria Waldir, “vou pensar”.
Durante seu biênio governamental (15 de março de
Ao visitá-la, após período de ausência, Waldir Pires foi recebido com expressão preocupada e palavras de carinho de sua mãe, que teria notado certo ar de cansaço no filho recém chegado. Em seguida, rápido diálogo:
Mãe – Filho, quer um cafezinho?
Filho – Quero, mãezinha.
Mãe – Com açúcar ou adoçante?
Filho – Mãezinha, vou pensar.
No governo baiano, que assumiu após fragorosa derrota imposta a Josaphat Marinho, Waldir criou até uma secretaria especial, ocupada pelo jornalista Wilter Santiago, para “pensar a Bahia”.
No meio do seu mandato, e já cansado de tanto “pensar”, transmitiu o cargo ao vice Nilo Coelho, que antes tinha sido afastado por ele mesmo da Secretaria de Minas e Energia. E não por bons serviços prestados...
O ex- ministro da Defesa carregou sempre consigo a alcunha de “Waldir Moleza”, criação do seu arquirival ACM, que morreu pouco antes de sua substituição por Nelson Jobim. E passou a circular outra piada:
Mal chegou lá em cima, Antônio Carlos Magalhães foi chamado às pressas por São Pedro, que foi direto ao assunto:
“Olha, ACM, não é assim que você é conhecido lá embaixo? Pois bem, não queira aqui ser mais do que Deus ou tomar o meu lugar...
ACM – Nada disso, São Pedro. Eu só não gostei de ser chamado antes de ver Waldir Moleza cair. Mas, São Pedro, seja o que Deus quiser, e estou ao seu inteiro dispor. Acredite. Ou pergunte ao Senhor do Bonfim...
A tradição pecuária da política
Não é de agora a mistura de pecuária com política. Se os bois de Renan e a bezerra de Roriz apareceram no Senado, a vaca de João Goulart foi para o brejo quando Waldir estava na Consultoria Geral da República. Enquanto o baiano de Cajueiro (Acajutiba) pensava, os militares se moviam. E deu no que deu.
Com Lula, na Controladoria Geral da União, Waldir, pelo menos, dividiu tarefas: reservou para si próprio o “pensar” e delegou o “agir” para o fiel escudeiro Jorge Hage Sobrinho.
Onde Waldir Pires se fartou de pensar foi no Ministério da Defesa. Mas essa sua fase de pensar aéreo não comporta piada porque o apagão de quase um ano e perto de 400 vítimas virou tragédia e crise nos céus e aeroportos brasileiros.
Nem pensar, nem fazer:
Já Lula, se não gosta de fazer, também não lhe apraz o desperdício de pensar. Prefere o “não saber de nada”, que é mais cômodo e mais popular com o guarda-chuva do bolsa família. Fala-se até em outra comemoração top top top, regida pelo mesmo maestro Marco Aurélio Garcia, que promete encantar o auditório com a opereta “Bolsa família é cabresto para amarrar voto na urna eletrônica”.
Insistiram com Lula para lançar o Programa de Aceleração do Crescimento, aconselhando-o a evitar por enquanto as platéias do Sul e Sudeste e um repeteco das vaias que enfureceram o presidente no PAN Rio 2007. Ele mandou-se para o Nordeste e foi surpreendido pelas vaias sucessivas capital a capital . A primeira surpresa foi na Paraíba do NEGO que superou as vaias do Maracanã ficando com o Ouro nesse novo esporte da Era Lula que prometem empolgar todo o País.
Sem rejeitar o PAC, até pelas encenações que viabiliza, o filho de Caetés mostrou uma queda por opção mais do seu estilo. E prevaleceu a idéia da Secretaria Especial de Ações a Longo Prazo e 80 cargos de confiança para “os companheiros e companheiras”.
Com status de Ministério, naturalmente, o mais recente aparelho burocrático talvez resulte um pouco, pelo menos, da convivência de Lula com Waldir. O “pensar a Bahia” de outrora virou o “pensar o Brasil” de agora. Em vez de Wilter Santiago, já falecido, o meio baiano Mangabeira Unger, neto de Otávio Mangabeira, que foi governador da Bahia.
De comum entre Lula e o professor de Harvard somente o falar com sotaque: num, o americanês; noutro, o singularês. O que parece ter sido suficiente para superar as diatribes do filósofo contra o sindicalista, a ponto de enxergar no governo Lula a corrupção encarnada e pedir o impeachement do presidente.
O Longo Prazo e o Regional
Resta saber o Longo Prazo que vai ser proposto para o sucessor de Lula. Necessariamente voltado para o futuro, será conveniente que retome a idéia central do Manifesto Regionalista de 1926, divulgado, em Recife, por Gilberto Freyre: “Regionalmente é que o Brasil deve ser administrado”.
E contemple iniciativas como a criação da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Pólo Paulo Afonso(BA), Petrolândia(PE), Piranhas(AL) e Canindé do São Francisco(SE), o complexo geoeconômico moldado pelas usinas hidrelétricas da Chesf.
As dúvidas
Malu Fontes, jornalista, doutora em Comunicação e Cultura e professora da Facom-UFBA, no artigo “O Brasil e a sua Secretaria de Ações de Longo Prazo” (Revista da TV, A Tarde, 24/6/2007), fortalece as dúvidas quanto a esse Longo Prazo do lulismo:
“Trata-se de Mangabeira Unger, um filósofo esquisitão, de carreira acadêmica sólida, professor da Universidade de Harvard(EUA) e dono de uma dicção e performance facial inomináveis. As características do mais novo integrante do primeiro escalão governamental são tão diversas quanto os perfis políticos e ideológicos das personalidades que fazem parte de sua claquete: de Ciro Gomes a José de Alencar (o vice-presidente da República, seu principal padrinho no governo), de Caetano Veloso a Edir Macedo. Pelas mãos de Macedo, inclusive, Unger foi escalado para dar uma lavadinha na imagem do partido que abriga o rebanho político da Igreja Universal do Reino de Deus, o PRB.”
Eu me pergunto: o que vai sair de tantas diversidades, que vão de Ciro Gomes e José de Alencar a Caetano Veloso e o bispo Edir Macedo? A resposta também só virá a longo prazo.
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