terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Usina de futuro de Canudos

Parque Estadual de Canudos

Uma pergunta usualmente pensada e às vezes formulada é sobre o que seria de Canudos sem Euclides da Cunha. Outra: o que seria de Euclides da Cunha, de sua imagem, se tivesse morrido antes de escrever Os Sertões, deixando como legado apenas o Diário de uma Expedição com sua fúria patrioteira de republicano noviço. Terceira: O que teria acontecido se a Guerra de Canudos, em vez de vencida pelo Exército, tivesse os conselheiristas como vencedores?

Outras tantas indagações podem ser feitas. Ao falar, em 1937, sobre o Barão do Rio Branco, em conferência da série “Os nossos grandes mortos”, promovida pelo Ministério da Educação e Saúde, Gilberto Amado confessou “o susto que experimento ao examinar uma grande existência”. Se Dante não tivesse vivido para escrever a Divina Comédia; “se Goethe se tivesse suicidado em vez de Werther, se Napoleão tivesse ficado em Ajaccio?” Se Rio Branco não tivesse chegado ao Itamaraty. Existências coletivas como a do povo de Antonio Conselheiro também assustam ao ser examinadas.

Euclides descobriu o Sertão

Gilberto Amado lembrou ainda que foi preciso Colombo para descobrir a América existente; Camões, para escrever Os Lusíadas, “que estavam no mar”; Wagner, para “ouvir” “a música” que andava na Alemanha e “a compor”. Euclides descobriu o Sertão, visto de Belo Monte; escreveu o que estava escondido pelo litoral; ouviu a voz da comunidade sertaneja e compôs a sua história.

Uma história tão real que ganhou cenários para torná-la viva e conseqüente, preservando o passado de luta, enriquecendo o presente de paz cidadã e preparando o futuro de sonho feito realidade. Desde o mais amplo, e a céu aberto, todo o Nordeste Semi-Árido, à Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Centro de Estudos Euclides da Cunha (CEEC) e Parque Estadual de Canudos, idealizado e criado pelo professor Edivaldo Boaventura, primeiro reitor da Uneb.

O passado como estímulo

O passado como base de estímulo e orientação para encher com o espírito libertário de Belo Monte a proposta de reinvenção do próprio Nordeste dentro da moldura democrática. Com agenda centrada em ações concretas distribuídas pelos municípios irmãos de Canudos, Monte Santo, Uauá e Euclides da Cunha, além do Distrito de Bendegó, a partir de iniciativas como a do professor da Uneb, Roberto Dantas, expostas no documento A Nova Canudos, a Uneb e a Concepção de um Projeto.

E das que forem surgindo do debate coordenado pela Uneb, ampliado por parcerias, com a Sudene, Chesf, Codevasf, Sebrae, Instintuto Xingó, prefeituras e câmaras municipais, dentre outras. Todas com o sentido de integração no espaço do semi-árido, incorporando, por exemplo, experiências no âmbito da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento dos Pólos de Juazeiro e Petrolina, no Médio São Francisco, e da previsível Região Administrativa Integrada dos Polos de Paulo Afonso (BA), Petrolândia (PE), Delmiro Gouveia (AL) e Canindé (SE), no Submédio e Baixo São Francisco.

Perenização do Vaza-Barrís

Não pode ficar de fora da agenda em debate projeto piloto para assegurar o acesso das crianças de 0 a 3 anos a creche-escola, objetivando a formação da base educacional e econômica, conjugado com programas de saúde e assistência social. Igualmente prioritária a perenização do Vaza-Barrís, a ser viabilizada por canal construído, saindo do São Francisco, em Sobradinho, até alcançar o leito do rio tingido pelo sangue das 25 mil pessoas mortas na Guerra de Canudos. Na sua versão mais simples, o Projeto de Perenização do Vaza-Barrís consiste em reverter o fluxo do Riacho Macururé, que deságua na represa de Itaparica e tem uma extensão de 123 km. Além de medidas capazes de tornar produtiva a convivência com a seca, que os conselheiristas souberam enfrentar, evitando a fome e a miséria.

Portanto, e em resposta à última das interrogações, a comprovação de que, em vez de vencidos, Antonio Conselheiro e sua gente foram os vencedores no conflito. Mortos que continuam venerados e vivos na usina de futuro do Parque Estadual de Canudos, para gestar o desenvolvimento do Nordeste integrado no todo nacional e republicano.

Um comentário:

Esmeraldo Feitosa disse...

Heitor-precisamos conversar. agora está muito facil-você tem meu email.gostei muito dos seus artigos. você precisa escrever a história de nossa terra.Eu tenho muitas informações para você.