No governo Fernando Henrique Cardoso, a Integração Nacional e o Desenvolvimento Regional foram retomados como prioridades, em resposta “à demanda de redução das disparidades sociais e regionais”. Este o objetivo do Ministério da Integração Nacional e de sua Secretaria de Programas Regionais Integrados. Integração é palavra chave e o seu sentido é inerente aos anseios mais fortes e naturais da humanidade. O desejo de incorporar, de integrar partes ainda desconhecidas do planeta Terra levou os homens aos desafios dos “mares nunca dantes navegados”. A Europa, que através dos seus navegantes, fez tantas descobertas, e, durante séculos, foi um continente dividido por disputas e guerras, construiu a integração exemplar de 27 países. A União Européia, mais do que a um mercado comum, chegou a uma moeda única, o euro.
Se isso foi possível, superada até a rivalidade França X Alemanha, será impossível conjugar os interesses de 29 municípios dos estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe na Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Submédio e Baixo São Francisco?
Pois bem, já que isso não parece tão fácil, recorra-se ao convite do ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger, dirigido ao governador Jacques Wagner, para conspirar em favor do Nordeste. Ele deve ser logo aproveitado como estímulo a outra trama mais localizada, com tática de guerrilha, contra o descaso que castiga a microrregião de Paulo Afonso com os efeitos conjugados da falta de estradas, de segurança e proteção jurídica, e de serviços de saúde pública, todos eles multiplicadores da pobreza escondida pelo bolsa família.
A novela do Hospital Nair Alves
E até com símbolos sob medida para enfeitar estandartes, dentre eles as novelas do Hospital Nair Alves de Souza e do reassentamento de Itaparica, este já comparado a “um barril prestes a explodir”. E seu caldo de cultura que é a síndrome do fogo de palha, as chamas fugazes dos entusiasmos passageiros por uma causa, a Universidade Federal do Sertão, por exemplo, apagadas sempre pelos conformismos permanentes. E se compreenderão as enfermarias ou sepulturas, como as do Programa e Instituto Xingó, do Projeto São Francisco de Piscicultura e das motonetas, cervejaria e Copa Vela, filha abandonada do turismo, sempre na UTI, a única existente
Sede do complexo energético da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco,
Fique claro que esta maquinação guerrilheira, inspirada em sugestão ministerial, terá na linha de frente, como seu alvo estratégico, a proposta de criação da Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento. Pelo menos um dos prefeitos eleitos em 2008, Júlio Lóssio, de Petrolina, defendeu “gestão integrada no São Francisco”, a partir dos municípios unidos para assegurar ações federais e formalizar parcerias.
São Francisco: rio da unidade ou da desunião?
Certo que o prefeito Lóssio leva vantagem: governará Petrolina (PE), que já forma com Juazeiro (BA) e seus respectivos municípios periféricos Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento. Mas sua palavra e seus atos somarão em favor desse integracionismo mais amplo, às margens do São Francisco, outrora considerado “rio da unidade nacional”, hoje candidato a “rio da desunião regional”. Da mesma forma estará nesse somatório o pacto do Baixo São Francisco, em montagem pelos governadores Marcelo Deda (SE) e Teotônio Vilela (AL).
Só faltam as manifestações dos governadores Jaques Wagner (BA) e Eduardo Campos (PE) para que se feche o circuito de arranjos territoriais, desde Juazeiro-Petrolina, incluindo outros municípios intermediários de Pernambuco e da Bahia, e seus pólos mais expressivos, Paulo Afonso, Petrolândia, Delmiro Gouveia/Piranhas, Canindé do São Francisco, até à foz do rio, ora em luta desigual com o Atlântico. É até admissível que o prefeito Francisco Teles, de Santa Brígida, já refeito do susto da eleição para a presidência da UPB (“Vim aqui a Paulo Afonso para votar”), incorpore a União dos Prefeitos da Bahia ao surto de integracionismo.
Munição (de argumentos) não faltará à guerrilha integracionista do São Francisco, nem solidariedade à conspiração pelo Nordeste do ministro Mangabeira Unger e do governador Jaques Wagner.
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