sábado, 11 de outubro de 2008

A liderança regional de Paulo Afonso

A beleza sacrificada para iluminar o Nordeste

Minha chegada a Paulo Afonso, em 1989, a serviço do jornal A Tarde, coincidiu com o início da gestão Luiz de Deus na Prefeitura, encontrada em completo descrédito, como pude testemunhar e divulgar. Seguiram-se a ele – hoje deputado estadual – Anilton Bastos, novamente eleito este ano, e Paulo de Deus, que exerceu dois mandatos. Antes de concluir o segundo, renunciou ao cargo, para candidatar-se a prefeito de Canindé do São Francisco (SE), em 2004. Foi derrotado, como aconteceu com o seu vice, Wilson Pereira, ao disputar a eleição com Raimundo Caires, atual prefeito, que, por sua vez, agora, não conseguiu se reeleger. A Prefeitura de Paulo Afonso volta assim ao grupo do deputado Luiz de Deus, apoiado pelo federal José Carlos Aleluia, ambos do DEM.

Também por coincidência, a minha saída de Paulo Afonso, por motivos particulares, acontece quando volta ao poder o mesmo agrupamento político que aqui encontrei há quase vinte anos. Não é o momento de analisar o desempenho dos prefeitos Luiz de Deus, Anilton Bastos e Paulo de Deus. Limito-me, por enquanto, a reconhecer que, ao longo dos seus governos, registrou-se mudança radical na face urbana e rural do município e no trato da coisa pública. No livro que lançarei em 2010, dedicarei ao tema um capítulo especial, já incluindo o que foi a primeira metade do segundo mandato de Anilton.

A imparcialidade necessária

Procurei sempre, no exercício do jornalismo, a imparcialidade, que dá lugar ao louvor comedido do mérito ou à crítica proporcional aos deméritos, trate-se de administrador público ou empresário privado. As quase duas décadas vividas em Paulo Afonso e região me deram a oportunidade de conhecer bem de perto a realidade social e econômica dos municípios situados entre o Submédio e o Baixo São Francisco e o desempenho das instituições que operam nessa área do semi-árido, sob influência direta das usinas de Itaparica, Paulo Afonso e Xingó.

Acompanhei, por exemplo, as atividades da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco, com seus altos e baixos, do Instituto Xingó, hoje com desvio de função, e do Sebrae regional, reduzido na sua atuação. Nos três casos, não têm correspondido às expectativas da comunidade, entre indícios de comportamento pouco republicano. As deficiências do Hospital Nair Alves de Souza, o desamparo da iniciativa privada, a falta de estímulo efetivo ao empreendedorismo e à formação de mão-de-obra qualificada, a orfandade persistente dos pequenos produtores rurais, estes fragilizados diante dos caprichos climáticos, são indicadores de que precisa ser modificado, estrutural e conjunturalmente, o tratamento dispensado a esta região.

A dívida social da Chesf

Uma região que perdeu a beleza de sua cachoeira e boa parte das terras ribeirinhas agricultáveis e continua sem receber a justa compensação. Sirva de exemplo a sorte de expressivos contingentes dos reassentados de Itaparica e os lotes irrigados, prometidos pela Chesf, para substituir suas roças inundadas pela barragem, que deveriam, pasmem os leitores, estar todos operando desde julho de 1988.

Acrescento-se a tudo isso a displicência dos governos federal e estadual, comprovada pelas estradas precárias, a exemplo das BRs 110 e 235, e das BAs 210, 220 e 305, pelas falhas gritantes na saúde, na educação e na segurança. E se terá uma idéia do descaso e do abandono sofridos por esta região. O que não é de hoje mas nem por isso pode servir de desculpa para os atuais governantes.

Foto: Antônio Galdino
O carisma que faz a festa

Com o carisma que conquistou o eleitorado de Paulo Afonso e transformou numa festa que não para sua vitória, o prefeito eleito Anilton Bastos pode, mesmo antes da posse, iniciar uma mobilização regional e supra-partidária. Envolvendo seus colegas, os vereadores, os senadores e deputados estaduais e federais, a sociedade civil organizada. Para exigir da Presidência da República e do Governo da Bahia o atendimento às reivindicações que já estão de cabelos brancos. E, quem sabe, não cresça essa movimentação, até atingir municípios de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, e se institucionalize, afinal, a Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento.

E assim o Submédio e Baixo São Francisco tomarão o rumo do desenvolvimento integrado, deixando, como má lembrança do passado, o atraso e a pobreza de suas populações (Leia no jornal A Tarde).

Nenhum comentário: