terça-feira, 29 de julho de 2008

“São bons rapazes, e é por isso que atiram”


Quem quiser desaprender revolução pode iniciar-se pela leitura do romance O Doutor Jivago, que deu a Boris Pasternak o Prêmio Nobel de Literatura. Nele se desenrola o processo de desmonte das pessoas e das famílias e dos valores que as sustentam.
Não foi à toa que o regime soviético impediu sua publicação e circulação na URSS. O livro não condena nem absolve ou defende o comunismo. Apenas mostra o roteiro das intenções e ações dos revolucionários e a realidade, o resultado da revolução, no caso a revolução russa.
Pasternak põe na boca de Lara, uma das personagens mais bem construídas da literatura no Século XX, uma frase que resume a contradição inerente aos que se valem da violência para transformar a sociedade: “São bons rapazes, e é por isso que atiram”.
Imagino presentear o eventual visitante deste blog com a transcrição do trecho em que está inserida:
“Os rapazes atiram”, pensava Lara. Não pensava particularmente em Nika e em Pacha, mas em todos aqueles que atiravam na cidade (Moscou). “Bons e honestos rapazes, pensava ela. São bons, e é por isso que atiram” (O Doutor Jivago, Boris Pasternak, tradução de Oscar Mendes e Milton Amado, Edições Itatiaia Limitada, Belo Horizonte. Página 54).
Já no Epílogo, que corresponde à Décima Sexta Parte do livro, outra frase, esta de Gordon, dialogando com Evgraf (meio-irmão de Yuri Jivago): “Não é a primeira vez que se vê isso na história. O que é concebido de uma maneira ideal e elevada torna-se grosseiro, materializa-se. Foi assim que a Grécia se tornou Roma, foi assim que a Rússia das luzes se tornou a revolução russa” (Página 535).

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